Análise de Dados não é pastelaria: o fim do “só um número rapidinho”
Recentemente, participei de um evento de tecnologia e ouvi uma frase que ficou na minha cabeça: “O mercado de TI não é uma pastelaria”.
Como analista de dados, não consegui evitar a comparação: quantos “pastéis de dados” já me pediram para fritar ao longo da carreira?
Você provavelmente já viveu isso também. O famoso:
“Puxa esse número rapidinho para mim” no chat;
“Monta um dashboard de vendas aí”, sem dizer qual decisão precisa ser tomada;
Ou ainda o clássico: “Vai colocando uns gráficos que depois a gente define quais métricas importam”.
Essa é a cultura da pastelaria aplicada aos dados. E, por mais inofensiva que pareça, ela é perigosa: trata uma das áreas mais estratégicas da empresa como se fosse um balcão de fast food.
O problema do “me vê um relatório aí”
Imagine entrar em uma pastelaria e pedir: “faz um pastel, o recheio eu decido quando você já tiver fritando”. Parece absurdo, certo? Mas é exatamente isso que acontece quando alguém pede um relatório sem clareza de objetivo.
Essa mentalidade transforma a análise de dados em algo simplista e instantâneo, ignorando toda a complexidade envolvida:
A pergunta de negócio é o recheio: um número sozinho não significa nada. O que importa é o insight que ele gera. Antes de rodar um SELECT, precisamos entender: qual é a pergunta? Que decisão será tomada com essa resposta?
Qualidade exige preparo: um dashboard bonito é só a ponta do iceberg. Por trás dele existe a escolha da fonte de dados certa, a limpeza, a modelagem, a validação e só então a visualização. Pedir “para ontem” quase sempre significa pular etapas — e aí a decisão sai baseada em dados ruins.
Analistas não são puxadores de relatório: nosso papel é estratégico. Investigamos, formulamos hipóteses, encontramos padrões e comunicamos insights para guiar a empresa. Somos a ponte entre dado bruto e decisão inteligente.
O custo real de uma análise “pastel”
Quando a cultura imediatista domina, as consequências aparecem rápido:
Decisões equivocadas baseadas em números fora de contexto;
Cemitério de dashboards, criados sem propósito e esquecidos logo depois;
Burnout da equipe de dados, sempre correndo atrás de pedidos urgentes e sem tempo para análises profundas.
Como virar o jogo
A mudança começa com uma atitude simples: em vez de aceitar cegamente o pedido, devolver com uma pergunta.
Quando alguém disser “puxa esse número rapidinho”, responda: “Claro! Mas qual decisão você precisa tomar com ele?”.
Não é sobre criar burocracia. É sobre educar a organização de que análise de dados não é velocidade de consulta, é profundidade de insight.
Dados são o ativo mais valioso de uma empresa na era digital. Merecem mais cuidado do que a pressa de uma fritura.
E você? Qual foi o “pastel de dados” mais absurdo que já te pediram para fritar?
Compartilha nos comentários.