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Como um Notebook Celeron e o Pascalzim Me Levaram ao Mundo da Programação

Nota do Autor: texto foi escrito em 2023, numa fase em que eu atuava como desenvolvedor Laravel e Vue.js em uma empresa local do estado onde nasci. Na época, eu só queria registrar minha trajetória desde os 14 anos, quando comecei a me aventurar no mundo da programação, até os 17, entre IDEs antigas, sonhos de infância e HTML feito no Notepad++.

Desde então, muita coisa mudou.

Fundei duas empresas — sendo uma delas reconhecida internacionalmente (o que até hoje me soa meio surreal) — e me envolvi com pesquisa aplicada em áreas como 5G e supercomputação, coisas que o garoto do Pascalzim nem imaginaria.

Gosto de pensar que esse texto é como um daqueles rascunhos guardados com carinho no fundo da gaveta, cheio de erros, mas também cheio de verdade. Se você chegou até aqui, obrigado por ler. Espero que, de alguma forma, tenha te inspirado a começar... ou continuar.

— Lucas Matheus, com café frio ao lado, e um monte de abas abertas. ☕💻

Influências, Documentários e Livros

Em 2014, enquanto o mundo se transformava com o avanço das redes sociais e revelações como as de Edward Snowden dominavam os noticiários, eu era apenas um pré-adolescente fascinado com tudo aquilo. Cada nova informação sobre hackers, espionagem digital e gigantes da tecnologia despertava uma pergunta simples na minha cabeça: como isso funciona?

Foi nesse clima de curiosidade que assisti ao documentário A Guerra dos Navegadores, do Discovery Channel, e entrei em contato com histórias de nomes como Bill Gates, Steve Jobs e Kevin Mitnick. Meus primeiros "mentores" vieram de livros de hacking que meu irmão baixava, como A Arte de Enganar e O Guia do Hacker Brasileiro. Aquilo tudo parecia distante — mágico até — mas, ao mesmo tempo, incrivelmente instigante.

Aos 14 anos, decidi que queria aprender a programar. E, sem muita noção do que era mais fácil ou prático, comecei logo com C/C++ — afinal, se era o que grandes nomes usavam, por que não tentar também?

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Assim como todo apaixonado por tecnologia, em algum momento da vida fui exposto à história de Bill Gates e Steve Jobs, e como esses dois foram fundamentais para a popularização dos computadores pessoais. Comigo não foi diferente: pesquisei sobre a trajetória de ambos e como foram visionários ao perceber o impacto que um computador poderia ter na vida das pessoas. Através da história de Bill Gates, compreendi como o conhecimento em compiladores, sistemas operacionais e linguagens de programação eram peças-chave na construção de um software de computador. Com Jobs, aprendi que não é necessário entender profundamente de programação para criar algo relevante na área — basta convencer alguém que entende muito a fazer isso. Brincadeiras à parte, a história de Jobs é inspiradora em muitos aspectos, e os produtos da Apple impressionavam qualquer um, tanto pelo design quanto pelo software.

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Pesquisar a trajetória desses dois foi de extrema importância para mim. Não posso dizer que serviram exatamente como inspiração na área da programação em si, pois, na época, eu já conseguia diferenciar seus feitos empresariais do que foi, de fato, construído tecnicamente por eles. De qualquer forma, com essas pesquisas, alguns jargões da área começaram a aparecer com frequência: compiladores, sistemas operacionais, kernel, linguagem de programação.

Com toda essa pesquisa, aos 14 anos, acabei me interessando pelo desenvolvimento de software e já tinha uma ideia de por onde começar. Muitos, acredito, optariam por uma linguagem ou stack mais fácil de aprender. Todavia, no auge do meu amadorismo, escolhi C/C++ (ora, se o Bill Gates usou para construir algumas coisas, por que eu não poderia tentar também, não é mesmo?).

2014 - O Primeiro Contato: Dev C++, CodeAcademy, Pascalzim, Visual Basic e Compiladores online.

Como um jogo é feito? Como um sistema operacional é construído? Como posso criar um software? Se eu deixasse meu navegador aberto em 2014 e você pudesse dar um CTRL + H, esse seria o resultado. E em todas as minhas pesquisas, uma linguagem aparecia com frequência: C ou C++. Aparentemente, essa era a linguagem certa para se aprender — com ela, eu poderia desenvolver qualquer sistema desktop.

Eu ainda não havia estudado os conceitos de C ou C++, mas queria entender o funcionamento de um programa, e acreditava, na época, que esse seria um bom ponto de partida. O conceito mais básico que aprendi foi o de compilador: toda aquela mágica, toda aquela "bruxaria", se resumia a digitar comandos e esperar por uma saída? O mundo virou de cabeça para baixo — de forma positiva —, pois, a partir daquele momento, compreendi que programar ou desenvolver algo, em um nível simplista, tratava-se de escrever instruções para que a máquina executasse uma determinada ação.

Parece que foi ontem. Era 2014, e eu estava no meu quarto, com meu notebook de processador Celeron, observando atentamente a saída de um jogo cujo código-fonte eu havia encontrado na internet. Acompanhar seu funcionamento em uma IDE chamada Dev C/C++ era simplesmente fascinante. Eu me sentia no topo do mundo fazendo aquilo — por algum motivo, passava horas digitando linhas de código e vendo o que acontecia. Era mágico. Um verdadeiro amor à primeira vista.

Naquele momento, algo ficou claro pra mim: se eu pudesse passar o resto da vida fazendo aquilo, estaria feliz. Mas, com o tempo, percebi que C/C++ talvez não fosse a linguagem mais didática para um primeiro contato. Apesar de oferecer bases sólidas e um entendimento profundo que transparece em outras linguagens derivadas, a curva de aprendizado era um pouco íngreme para um iniciante.

Foi então que comecei a procurar por algo mais acessível — e acabei encontrando o Pascal e seu encantador compilador chamado Pascalzim. Essa descoberta abriu novas portas e tornou a jornada de aprender a programar muito mais confortável e prazerosa.

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Uma pequena tangente aqui: eu não tinha um computador muito bom. Não conseguia rodar compiladores mais pesados, especialmente para desenvolvimento em outras plataformas, como mobile, por exemplo. Vim de uma família humilde — meu pai trabalhava como ASG em um hotel e minha mãe em uma fábrica de roupas. Desde cedo, aprendi o valor do trabalho duro para garantir a sobrevivência e a importância de usar os recursos disponíveis para criar, dentro do possível, um ambiente confortável e feliz.

No mundo da computação, não foi diferente. Eu sabia das limitações da minha máquina e, vindo de escola pública com pouca — ou nenhuma — infraestrutura tecnológica, precisei me adaptar. Por isso, não estranhe se eu mencionar compiladores antigos ou até meio "esquisitos", como o Pascalzim. Aquilo era o que eu tinha à disposição — e era a minha porta de entrada para aprender.

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O Pascalzim era realmente fascinante. Aquela clássica tela azul e as diversas opções de aprendizado que ele oferecia me ajudaram a entender conceitos fundamentais como variáveis, estruturas de controle, e a lógica de início e fim de um programa. Acredito, inclusive, que ele contava com um módulo que disponibilizava o código-fonte de alguns jogos e programas, permitindo que você analisasse seu funcionamento e até executasse na hora.

Embora eu não tenha me aprofundado muito na linguagem Pascal, só de visualizar aquelas possibilidades já me deixava empolgado com o que eu ainda poderia aprender no futuro — especialmente com outras linguagens que exigiriam mais tempo e dedicação. Foi uma faísca importante, que me mostrou que o mundo da programação era muito maior do que eu imaginava.

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Paralelamente, eu começava a entender para que cada linguagem de programação era mais adequada. Em um passeio da escola para uma feira de ciências local, lembro que vi uma espécie de mão robótica e perguntei ao apresentador em qual linguagem ela havia sido desenvolvida — se foi em Assembly ou C++. Saber isso foi extremamente importante, porque me ajudava a perceber qual linguagem eu deveria escolher para construir determinados sistemas, e qual seria mais apropriada para cada contexto.

Lembra daquela tangente que mencionei antes? Ela se conecta diretamente aqui: como meu computador tinha recursos bastante limitados, eu não podia simplesmente baixar qualquer compilador e começar a programar. Foi aí que descobri os compiladores online. Eles eram uma verdadeira salvação — eu não precisava instalar todo o kit de desenvolvimento para uma linguagem específica; bastava acessar um site, digitar o código e ver o resultado.

Como eu estava em uma fase altamente experimental, consegui explorar o funcionamento de diversas linguagens. Algumas delas eu nunca mais usei depois: Prolog (descobri que era usada em robótica), Ruby (na época, não fazia ideia para que servia), PHP, e até Brainfuck (sim, existem compiladores online para Brainfuck!). Foi nesse processo que entendi que, para construir um site, eu precisaria dominar uma espécie de "santíssima trindade" do front-end: HTML, CSS e JavaScript.

E foi aí que conheci a Codecademy — uma plataforma online perfeita para esse momento. Nela, era possível aprender os conceitos básicos de diversas linguagens, como HTML, CSS, JS, Ruby, PHP e Python. A didática era envolvente: explicavam um conceito ou uma tag de um lado da tela e, do outro, havia um espaço de trabalho onde eu podia testá-la e ver o resultado em tempo real. A plataforma contava com uma série de exercícios interativos, e foi ali que aprendi HTML, CSS e um pouco de PHP — além de entender como essas linguagens se conectavam com o navegador.

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Se eu tivesse que definir meus estudos em 2014 com uma única palavra, seria experimentação. Naquele ano, meu aprendizado não foi nada sistematizado — e, por isso mesmo, acabei cometendo um erro comum entre iniciantes: tentar aprender várias linguagens de programação ao mesmo tempo. Mas, no fim das contas, tudo aquilo fazia parte da minha fase experimental.

Observei como cada linguagem funcionava, aprendi apenas o básico de cada uma, sem me aprofundar ou desenvolver programas realmente relevantes. Ainda assim, gosto de dizer que o conhecimento, assim como a energia, nunca é desperdiçado — ele sempre se transforma ou se conecta a outros tipos de saber. E foi justamente essa diversidade de contato que plantou muitas sementes para o que viria depois.

2015 - Minidicionário de Informática e meu primeiro website

Sabendo que, para produzir um website, era necessário dominar HTML, CSS e alguma tecnologia que proporcionasse uma interação mais significativa com o usuário, fui em busca de ferramentas que pudessem me ajudar nesse processo. Eu sabia que era possível desenvolver apenas com o Bloco de Notas, mas entendia também a importância de usar uma IDE — tanto para aumentar a produtividade quanto para facilitar o desenvolvimento com sugestões de erros e recursos de autocompletar.

Na época, acredito que o Notepad++ já existia (inclusive, cheguei a usá-lo em meados de 2014). Utilizei-o por um tempo para escrever código e estudar, mas a ferramenta que realmente me chamou atenção foi o Adobe Dreamweaver. Ele oferecia templates prontos e interessantes, o que agilizava bastante a construção do site e tornava o processo mais intuitivo para quem estava começando.

Com as ferramentas e os conhecimentos básicos em mãos, só faltava uma coisa: uma temática para o site. Naquele período, o universo dos filmes de super-heróis e da cultura pop estava em alta. Então, decidi que meu site seria voltado para jogos ou quadrinhos. Como iniciante, meus projetos ainda não tinham muito apelo visual, então recorri a soluções como o WordPress e outras plataformas semelhantes.

Como não tinha dinheiro para comprar um domínio, fui atrás de alternativas gratuitas e acabei conhecendo o .TK, que me ajudou bastante. Também entendi que um site precisava estar hospedado em algum lugar — e, naquela época, a Hostinger oferecia hospedagem gratuita por 30 dias (se não me falha a memória). Foi assim que nasceu o Mundo HQ, um site criado com WordPress, onde os visitantes podiam ler histórias em quadrinhos online. O catálogo era pequeno, mas selecionei algumas das mais conhecidas, como Watchmen, Era de Ultron e Piada Mortal.

Apesar de simples, foi extremamente satisfatório ver meu primeiro site no ar. Tentei fechar parcerias com outros sites, mas por ser algo iniciante, recebi muitas negativas. Um deles até questionou se eu tinha os direitos autorais para disponibilizar aquelas histórias. Além do Mundo HQ, cheguei a produzir outros sites sobre jogos e conteúdos aleatórios. Nada extraordinário, mas esses projetos foram fundamentais para que eu entendesse o fluxo completo de construção e publicação de um site.

Em 2015, segui praticando HTML e tive meu primeiro contato com interfaces gráficas utilizando Visual Basic — embora nada muito técnico. Nesse ano, acabei comprando um minidicionário de informática para me ajudar a compreender alguns conceitos que ainda eram confusos para mim.

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Pulando para 2017, já matriculado no curso, tive a oportunidade de aprender lógica de programação de forma mais formal, além de diversas outras disciplinas fundamentais para quem deseja seguir no mundo da tecnologia. Foi um período importante, onde pude consolidar conhecimentos e entender melhor os caminhos possíveis dentro da área da programação.

2017 - The Crazy Years: Redes, Java, Arquitetura de Computadores e Lógica de Programação, Matemática.

Bom, o curso foi de extrema importância. Após completarmos aproximadamente um semestre, precisávamos escolher uma ênfase de conhecimento: Jogos Digitais, Eletrônica, Redes, Desenvolvimento Web ou Automação Industrial. Lembram da minha influência inicial com os livros de hacking? Eu ainda alimentava o desejo de me tornar um hacker ético, e sabia que o conhecimento em redes seria indispensável para isso — sem contar as inúmeras possibilidades futuras com o surgimento da IoT e outros tipos de tecnologias conectadas.

Dentro do curso, tive contato com Java, tanto na abordagem estruturada quanto na orientada a objetos. A lógica de programação, trabalhada inicialmente com o Visualg, foi essencial para compreender o que há de mais fundamental em qualquer linguagem de programação: a lógica.

Estudar Arquitetura de Computadores foi revelador. Descobri como um computador realmente funciona e como interage com os programas, explorando conceitos como Arquitetura Von Neumann, Arquitetura Harvard, CISC e RISC.

Na época, junto com outro colega, fui monitor da turma no primeiro semestre. Essa experiência me ensinou algo que levo comigo até hoje: “quando você ensina, você aprende ainda mais”.

Nunca fui muito fã de matemática, mas o curso me ajudou a entender conceitos que antes pareciam muito distantes da minha realidade — como matrizes, funções e lógica formal. Aprender esses fundamentos me fez perceber como eles tornam você um programador mais consciente do que está fazendo.

Depois disso, mergulhei nos conceitos essenciais das redes de computadores, como o Modelo OSI e dispositivos como roteadores, switches e comutadores. Foi também a primeira vez que tive contato com o simulador de redes da Cisco e com virtualização utilizando o VirtualBox.

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A programação orientada a objetos foi um pouco mais desafiadora, já que se tratava de um conceito completamente novo para mim. No início, parecia tudo muito abstrato, mas, com o tempo e a prática, alguns desses conceitos começaram a se tornar mais leves e compreensíveis. Aliás, tudo que envolvia um grau de abstração maior era mais difícil de assimilar naquela fase.

Um exemplo disso foi o modelo OSI. Achei extremamente maçante no começo — tinha dificuldade em visualizar sua aplicação prática. Foi apenas ao assistir a um vídeo no YouTube que consegui entender com mais clareza que aquilo, na verdade, era a base do funcionamento da internet.

Por outro lado, a parte de arquitetura de redes e os tipos de redes de computadores me pareceram mais concretos e interessantes. E o melhor: com o auxílio das ferramentas certas, percebi que era possível aprender a identificar e até construir coisas simples em poucas semanas — ou até mesmo em dias.

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Infelizmente, acabei sendo tomado por uma crise de ansiedade que me afastou completamente por cerca de três meses. Foram tempos complicados, dolorosos, nos quais comecei a acreditar que não era útil para nada. Parei de frequentar as aulas e só fui prestar o ENEM um ano depois.

Sou profundamente grato aos meus pais, que não desistiram de mim. Eles estiveram ao meu lado, cuidaram de mim e me incentivaram a retomar o curso técnico em Redes de Computadores. Não se enganem: em qualquer trajetória, você vai precisar de alguém que ame e acredite em você — alguém que esteja presente para apoiar suas decisões, mesmo nos momentos em que você próprio duvida de si.

Tudo que faço nunca foi apenas por mim. Sempre foi por eles. E por todos que, de alguma forma, também passaram ou ainda passam pelas mesmas dificuldades que eu enfrentei.

Aqueles três meses tiveram consequências: me afastei da escola e do curso. Mas em dezembro veio uma boa notícia — graças ao meu excelente desempenho acadêmico anterior, a escola me ofereceu uma nova chance de concluir o curso. Foi o recomeço de algo que eu acreditava ter perdido.

Conclusão

Bom, inicialmente eu estava pensando em condensar tudo isso, mas, com certeza, já temos bastante conteúdo dos meus 14 aos 17 anos — então por que não dividir, não é mesmo? Todos os passos que descrevi aqui foram fundamentais para a consolidação do meu humilde conhecimento na área de tecnologia. E é importante ter em mente que qualquer limitação pode ser superada com força de vontade e apoio. Acredito que essas são as maiores lições não técnicas desses três anos.

Do ponto de vista técnico, sem dúvidas, a lógica de programação foi a base que sustentou a fixação de muitos conceitos — conceitos que permanecem válidos independentemente da linguagem escolhida, seja você iniciante em uma linguagem X ou migrando para uma linguagem Y. Matemática e Arquitetura de Computadores podem parecer teóricas à primeira vista, mas são essenciais para compreender com profundidade o funcionamento interno dos sistemas e a interação entre software e hardware.

Meu conselho para as próximas gerações é simples: arrisquem-se. Não tenham medo de falhar durante o processo de aprendizado, por mais desafiador que algum tema possa parecer. Eu não sou especial, não sou um gênio e tampouco um superdotado. O que realmente faz a diferença é a coragem de sair da zona de conforto — não apenas para mudar a própria realidade, mas também para transformar a vida das pessoas ao seu redor.

Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/Kevin_Mitnick
https://archive.org/web/
https://www.youtube.com/watch?v=_TW45Wctsmg&ab_channel=AMentiraemQueVivemos
https://www.codecademy.com/
https://tsilvestre.files.wordpress.com/2013/07/o-guia-do-hacker-brasileiro.pdf

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