Somos novos observadores do tempo
Às vezes penso que Einstein não descobriu apenas leis sobre o universo, mas sobre nós mesmos. Quando ele mostrou que o tempo depende do observador, não estava só falando de relógios e velocidade — estava revelando algo essencial sobre a existência: cada um de nós vive o tempo de um jeito próprio.
O tempo de quem ama é diferente do tempo de quem espera. O tempo da alegria voa; o da dor se arrasta. E a física, curiosamente, confirma essa intuição poética: o tempo realmente se dobra conforme o ponto de vista. Dois observadores podem viver durações diferentes, e ambos estão certos dentro de seus mundos.
Mas não paramos aí. A física quântica trouxe outra virada de pensamento: o ato de observar muda o que é observado. A realidade parece se comportar de modo diferente quando alguém a está olhando. Isso, claro, ainda é assunto de debates profundos, mas deixa uma pergunta fascinante: até que ponto o modo como olhamos o mundo o transforma?
Se unirmos essas ideias — a relatividade e a incerteza — nascemos como algo mais do que espectadores. Somos participantes do tempo. O instante não está dado; ele se atualiza no encontro entre o mundo e a consciência. O agora não é só o que acontece — é o que percebemos, escolhemos e damos sentido.
Penso nisso quando olho para momentos simples: uma conversa, um café, um pôr do sol. O tempo parece desacelerar quando prestamos atenção. E talvez seja isso mesmo — o tempo se dobra em torno do olhar consciente. Ser um novo observador a cada instante é o que nos torna vivos.
A filosofia chamaria isso de “existência”: o ato de estar aqui e perceber. A física chamaria de “referencial”. Para mim, é apenas estar desperto — sentir o fluxo da vida e, ainda que por um segundo, perceber que o tempo não passa por nós; nós é que passamos pelo tempo, dando a ele um rosto novo a cada respiração.
Somos espectadores, sim — mas também criadores.
E o universo, talvez, precise de ambos para continuar acontecendo.