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A obsessão por "Playbooks" está criando uma legião de Burros Motivados (e por que a Amazon faz o oposto)

Existe uma doença silenciosa no mercado hoje, impulsionada por essa cultura de "Gestão de Alta Performance" e cursinhos de final de semana para CEOs: a crença de que processo substitui talento.

A premissa é sedutora: "Crie um playbook para tudo, transforme a empresa numa máquina e qualquer pessoa mediana performa como sênior". Na teoria, isso traz escala. Na prática, gera um colapso cognitivo na organização.

  1. O Fenômeno do "Burro Motivado"
    Toda vez que você impõe ordem excessiva em um sistema complexo, você gera desordem oculta (entropia). O excesso de "passo a passo" elimina a necessidade de julgamento crítico.

O resultado é o Burro Motivado:

É o dev que fecha o ticket no prazo seguindo o Jira, sabendo que o código é um lixo e vai quebrar em produção, mas "cumpriu o processo".

É o vendedor que empurra o produto pro perfil de cliente errado só pra bater a meta do CRM, destruindo o LTV e gerando churn lá na frente.

É o gestor que prefere ver o barco afundar a desobedecer o "Manual de Cultura".

Eles são eficientes. Eles batem meta. Mas são incapazes de pensar em segunda ordem. O processo virou uma muleta para não pensar.

  1. A Antítese: O "Bar Raiser" da Amazon
    Enquanto a maioria das empresas cria processos para acelerar a mediocridade (contratar rápido, vender rápido), a Amazon tem um processo desenhado especificamente para criar atrito e proteger a inteligência: o Bar Raiser.

Para quem não conhece: em todo processo seletivo da Amazon, existe uma figura chamada Bar Raiser.

Ele é de outro setor (não responde ao gerente da vaga).

Ele não tem metas de preenchimento de vaga (não tem pressa).

Ele tem poder de veto absoluto.

O gerente da vaga pode estar desesperado, o time pode estar sobrecarregado, mas se o Bar Raiser disser: "Esse candidato não é melhor do que 50% dos nossos atuais funcionários", a contratação não acontece. Ponto final.

  1. Por que isso importa?
    O Bar Raiser prova que governança de verdade não é sobre criar fluxogramas para robôs humanos seguirem. É sobre institucionalizar o "Não".

A maioria das empresas brasileiras (influenciadas por esses gurus de palco) cria processos para tirar a responsabilidade da decisão. A Amazon cria processos para garantir que a decisão seja dolorosamente criteriosa.

Conclusão (O Risco da IA)

Se a cultura da sua empresa foca apenas em "seguir o playbook" e executar tarefas repetitivas com eficiência máxima, tenho uma péssima notícia: uma IA vai fazer isso ano que vem por um centavo de dólar.

O que sobra para o humano é a capacidade de vetar, de julgar a nuance, de ser o Bar Raiser.

Se você está treinando seu time apenas para obedecer processo, você não está criando uma empresa, está criando um dataset para ser substituído.

Você teria coragem de dar poder de veto a alguém de fora da sua equipe na sua próxima contratação? Se a resposta é não, sua cultura não é de excelência, é apenas de ego e controle.

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Cara, perfeito.

Eu sempre segui essa tese, apontando que é redundante documentar certas tecnologias no Confluence da empresa, até porque o time nunca vai conseguir acompanhar perfeitamente as mudanças no material original.

É importantíssimo ter uma visão geral da arquitetura documentada, mas os pontos específicos, como aqueles de como realizar certos procedimentos, realmente precisam ser estudados caso-a-caso, porque eles mudam com o tempo. Quem está em TI precisa saber pesquisar, aprender e usar julgamento crítico (tanto pra material de internet quanto respostas de IA), é essencial para a profissão.