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O péssimo hábito de esperar que pessoas desenvolvedoras se tornem gerentes no Brasil

Olá! 👋

Meu nome é Gabriel Nunes e eu sou organizador da Codecon e escrevo a Feature Newsletter. Estou trazendo aqui, na íntegra, um conteúdo publicado na minha news recentemente. Considerem se inscrever para receber tudo lá por e-mail! Valeu! :)


Depois de anos trabalhando em uma empresa, finalmente você recebe a tão sonhada promoção para gerente. Todos os seus sonhos irão se realizar agora. Só que não. Na verdade, gerenciar outras pessoas nem sempre é uma tarefa fácil ou uma evolução que parece natural na carreira de desenvolvimento.

No Brasil, empresas de tecnologia geralmente seguem a cultura empresarial padrão do mercado daqui: pessoas mais velhas ocupam cargos mais sêniores e quanto mais tempo em uma empresa, mais chances de você subir de “nível” até a gerência. Talvez isso se dê ao fato do mercado de tecnologia ser relativamente mais novo do que o dos EUA, onde as coisas já mudaram faz algum tempo.

O maior problema que seguir o caminho padrão leva é a provável perda de uma pessoa técnica muito boa e o ganho de uma pessoa gerente medíocre. Isso tudo gera insatisfação para a pessoa que trabalha e a empresa também perde qualidade de gerenciamento.

A carreira em Y surgiu para preencher esse grande problema: nem todo mundo quer ser gerente. Ao mesmo tempo, ele também é importante pelo crescimento acelerado dos times de desenvolvimento e a necessidade de ter alguém para assumir novas responsabilidades.

As responsabilidades de cargos de engenharia

Basicamente as divisões de cargos que qualquer companhia faz serve para mostrar de uma forma mais fácil as responsabilidade e experiências de uma equipe. Isso reflete no salário também, obviamente, dessa forma a empresa consegue se estruturar melhor e justificar salários maiores para pessoas com mais experiência.

A Doximity é uma plataforma digital para profissionais de medicina com mais de 800 funcionários por todo o mundo. Júlio Monteiro é brasileiro e trabalha na empresa há 6 anos, onde há 9 meses ocupa o cargo de Staff Software Engineer. Seu dia a dia ainda tem muita programação e poucas reuniões, algo que provavelmente não aconteceria caso ele tivesse optado por seguir a perninha do Y para “people”.

“A criação destes cargos é uma maneira de separar uma equipe de engenharia grande para ficarem mais justas as responsabilidades, com base nas experiências”, diz Júlio Monteiro, Staff Software Engineer na Doximity.

Nos Estados Unidos é comum desenvolvedores em cargos maiores receberem mais do que gerentes. Na Netflix, por exemplo, o salário base para um Principal Engineer é de U 700 mil/ano, já o de um Engineer Manager é de U 300 mil/ano. A pesquisa que realizamos na Codecon, buscando entender o mercado brasileiro, já trouxe um resultado diferente: a média salarial de um Engineer Manager é de R 320 mil/ano e de um Principal Engineer é de R 200 mil/ano.

Trocando de posição no intervalo do jogo

Seguir uma carreira mais “tech” em vez de “people” pode ser um caminho interessante para a maior parte das pessoas desenvolvedoras que não conseguem se ver tendo que lidar com dezenas de reuniões de tomada de decisão, one on one, performance review, demitir pessoas, contratar pessoas e muitas outras coisas.

O que se vê também é que é possível voltar atrás. Elton Minetto trabalha há 14 anos gerenciando times e desde 2020 ocupava um cargo onde atuava 100% como gestor, o que o fez se afastar bastante da área técnica. “Foi aí que percebi, depois de muita reflexão e mentorias, que eu posso gerar muito mais impacto sendo técnico e não gestor. Seis meses atrás eu fiz a transição de gestor para técnico novamente, ao assumir o cargo de Principal Software Engineer no PicPay”, afirma Elton.

A rotina de um Principal/Staff Engineer pode mudar bastante de acordo com a empresa. Em alguns casos, a pessoa pode continuar seu dia a dia normal de quando ocupava um cargo sênior: revisar PRs, cuidar de tarefas e histórias e participar da daily, mudando apenas as responsabilidades e a confiança que essa pessoa transmite ao mexer no código, talvez isso mostre uma maior maturidade da equipe de desenvolvimento.

Já em outros casos, a pessoa pode mexer menos no código, mas mesmo assim ser bastante responsável pela área técnica: “Posso dizer que hoje uso mais o Google Docs do que o VS Code, pois passo bastante tempo escrevendo e revisando Design Docs, RFCs e outras formas de especificação técnica. Escrevo bastante código, especialmente provas de conceito e bibliotecas para acelerar o dia a dia de outras equipes, mas sempre focado em aumentar o meu escopo de impacto", complementa Elton Minetto.

O que o futuro nos propõe?

No Brasil são poucas as empresas que já trabalham com cargos como estes. É necessário um time de tecnologia relativamente grande e o amadurecimento da equipe como um todo. Existem casos de empresas que acreditam que está na hora de ter um Staff ou um Principal, mas ainda não estão preparadas, o que só gera gastos extras e uma provável demissão das pessoas que estão ocupando os cargos. Até por esse motivo, são poucas as vagas disponíveis para trabalhar nessa área. O que se sugere é paciência. Se você já ocupa um cargo mais sênior e não quer ir para gerência, provavelmente uma hora ou outra a sua empresa precisará criar novas formas de diferenciar responsabilidades.

Algumas empresas já com grande maturidade possuem o cargo de Distinguished Engineer (nome bonito, né?) ou de Principal Director. Novamente, são cargos novos que surgem para definir novos escopos e responsabilidades, onde essa pessoa olharia para a empresa como um todo.

O que importa é entender que a carreira em tecnologia já não é uma linha reta e é possível continuar trabalhando com código até cansar, se você quiser. Quem sabe no futuro a carreira em Y não vire uma carreira em W? Ou uma carreira em X?

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Eu recentemente assumi uma posição de Tech Leader (com um puxadinho de Team Leader) e posso dizer que as vezes penso que da saudade de só "desenvolver o meu e entregar". Gerenciar pessoas é um desafio enorme. MÃS... quando o negócio engrena e vai pra frente, é muito massa também.

Ainda bem que, na posição em que me encontro, lido muito mais com parte técnica... de arquitetar soluções mesmo, do que de gerenciar equipes no téti-a-téti. Acho que minha aptidão é mais técnica do que pessoal. Enfim. Curti a postagem. Vou propor essas duas novas posições na minha empresa atual. Paramos no Sênior... mas é bom diferenciar o Sênior do Sênior com mais responsabilidades também.

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Excelente contribuição Gabriel. Eu trabalho numa empresa que tem a carreira em W (uma perninha a mais que o Y kkkk), e é legal que de dev você pode partir para people, continuar como técnico, ou até ir para algo mais especializado como UI/UX specialist ou algo mais relacionado a dados. A empresa se chama CI&T, não sei se tem problema publicar aqui, mas esse modelo é muito bacana e me abriu muito a mente sobre evolução de carreira. Novamente, obrigado pelo post :)

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Atualmente não trabalho na área de desenvolvimento diretamente pois atuo como suporte técnico e mesmo não tendo qualquer experiência de mercado (atualmente buscando estágios ou trainee) li e absorvi muita coisa desse artigo. Obrigado pela contribuição, Gabriel!

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Ótima contribuição Gabriel, recentemente tive uma experiência que pude vivenciar exatamente isso. Sou desenvolvedor a mais de 12 anos, sempre gostei muito e sempre me vi trabalhando com isso no futuro, sempre quis melhorar minhas "soft skills", mas sempre priorizando o que eu mais gostava, a parte técnica.

Isso consequentemente com o fluxo natural das coisas, você acaba se tornando senior, e isso é bom. Porém ao mesmo tempo, você muitas vezes acaba sendo "migrado" para um gerente, líder técnico, etc. Sem realmente ter a possibilidade de "escolha", muito porque a empresa quer te levar mais para próximo do cliente ou aproveitar sua "facilidade" na tomada de decisões.

Entendo perfeitamente que muitos desenvolvedores almejem isso para suas carreiras, eu não. Consequencia de trabalhar como gerente por alguns meses? Stress, problemas de saúde, depressão, síndrome do impostor, etc. Eu realmente não queria ter assumido a "gerencia", só queria estar lá ajudando a minha equipe e fazendo o que mais gosto que é desenvolver/codificar. O maior problema foi eu simplesmente ter caído em uma reunião com o cliente e lá acabar descobrindo que iria ser o "gerente".

Após um período, acabei saindo da empresa, fui para uma nova oportunidade como desenvolvedor, a empresa se surpreendeu com a minha escolha de sair, e mesmo após diversas conversas em que eu expus minha insatisfação com o que eu estava fazendo, não foi possível mudar.

Então, ser gerente/líder não é o problema de fato, apenas as empresas precisam entender melhor o que cada um realmente quer.

Obrigado pelo post, e desculpe o desabafo :)

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Acho que o teu desabafo é o desabafo que muita gente quer fazer. A ideia do texto foi justamente trazer pra algumas pessoas que às vezes estão lá, sentindo tudo que você falou que sentiu mas sem acreditarem ter uma opção melhor.

Acho que existe muita gente que fica no cargo de gerência pois acredita que ali é o lugar delas mesmo, que não vai conseguir ganhar o mesmo salário em outro lugar, que não vai conseguir começar de novo. Mas acho que o importante é sempre buscar outras ideias e saber que existe outros caminhos e eles estão cada vez aumentando mais :)

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Sim, às vezes desenvolvedores precisam apenas desabafar :D

Em casos assim, muitas vezes dar um passo atrás (ganhar menos) vai compensar bem mais do que perder parte da sua saúde mental em algo que não está te fazendo bem, mas vai da situação de cada um, se puder fazer isso faça. :)

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Ótimo conteúdo @gabrielnunes!. Eu realizei a transição de desenvolvedor para Tech Lead e para Tech Manager, essa última posição era caracterizada por 80% gestão de pessoas e 20% técnico. Gostei muito de assumir cargo de liderança, adquiri experiências muito valiosas e consegui entregar valor como líder para os times. Porém a alta carga horária e falta de flexibilidade de horário me fizeram voltar para o papel de desenvolvedor, onde me encontro realizado hoje!

Eu tive o privilégio de ter ótimos líderes e cursos de gestão de pessoas que me treinaram e me fizeram ser um bom líder também. Infelizmente o mercado não é assim no geral, muitos engenheiros se tornando gestores por escassez de mercado e por bonificação salarial, um problema característico da última década que tem ocorrido no Brasil e no exterior.

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Esse é um dos meu maiores dilemas hoje, pricipalmente porque eu sou relativamente bom com pessoas mas eu gosto absurdamente de ficar no meu canto e codar. Agora uma pergunta...minhas softskils de comunicação e facil trato com as pessoas pode acabar me forçando a ser alguem mais "people" do que "tech" dentro das empresas??

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Eu tinha (e até tenho um pouco) essa mesma visão que você compartilhou. Até eu passar pela experiência de liderar um time. O feedback no final do projeto foi surpreendedor para mim, que tinha dúvida da minha capacidade de gerenciar atividades e pessoas.

Se você tiver a oportunidade de conversar com a gerência e fazer uma experiência pode ser interessante para abrir sua visão dentro da carreira.

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Acho que vai muito de um alinhamento com as tuas lideranças e da tua própria vontade. Não acho que é certo você se obrigar a ir pra parte "people" se você não quiser.

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Não. Você é dono da sua carreira. Softskills são extremamente úteis para te manter empregado, porque hoje em dia isso deixou de ser critério de desempate para se tornar requisito.

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quando iniciei minha carreira em TI, no meio dos anos 90, não dava pra lutar contra a maré das grandes organizações. ou ate dava, mas ao custo de trabalhar com sistemas muito menores e menos complexos.

Foi a partir dai que fui direiconado a gestao, o que nunca me agradou.

Com o ganho de alguma experiencia migrei para uma area de consultoria funcional, onde uso os conhecimentos tecnicos e a capacidade de falar com o negocio que acabei por adquirir com o tempo.

Ainda gostaria de trabalhar mais proximo aos temas mais tecnicos. Por muito tempo fui um gestor ruim com bom embasamento tecnico.

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Pois é, entendo que muita gente sofreu disso que você comentou. O bom é que muita coisa evoluiu recentemente e o futuro parece mais favorável pra quem chegar lá.

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Bom dia, turma, este texto explica com maestria o antigo dilema adaptado: -Ser ou não ser gerente de tecnologia, eis a questão. A meu ver, depende do objetivo de carreira de cada um, e suas motivações pessoais e profissionais. Muitos colegas almejam o cargo de gerente simplesmente pelos bons salários, e há neste contexto aquela velha escola de empresa com hierarquia matricial, onde os subordinados não podem ganhar mais que os seus superiores imediatos, isso na carreira 'Y' é uma evolução no paradigma.
Antes da pandemia já havia percepção e movimento do RH de algumas organizações, que perceberam o problema e iniciaram ações para melhorarem os seus processos implementando planos de cargo e salários mais realistas, feedback e avaliações de clima organizacionais entre outras ações.
Após pandemia - não sei se podemos dizer assim - as empresas saíram de um modelo de trabalho presencial para home office (seja híbrido ou 100%) e com isto abrimos as porteiras das contratações para o mundo. As empresas que antes tinham a limitação geográfica de contratação, hoje têm a possibilidade de contratar de profissionais do mundo inteiro, evidente que a concorrência por profissionais de diversas áreas aumentou, desenvolvedores com ofertas salariais antes imagináveis (uma pesquisa rápida no LinkedIn observa-se ofertas em dólar entre 6 até uns 9k mensais), e sem sobra de dúvida a motivação financeira para se tornar gerente apenas pela evolução salarial caiu por terra na minha visão.
A motivação salarial para um desenvolver assumir um papel de gerente está sendo descontruída com a carreira ‘Y’, dado o cenário atual do “mercado”, o fator motivacional tende a ser mais pela aptidão de liderar, e com isto teremos gestores “melhores” e desenvolvedores “felizes” e não se sentindo julgados pelo mercado simplesmente porque optou por ficar anos na arte de codificar, que particularmente amo 😊

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iae. eu tenho 14 e eu quero estudar essa área pra ser o dono de uma empresa. começar só comigo e crescer a empresa do meu modo e com os meus conhecimentos, ent eu queria perguntar pra os senhores adultos se isso é muito

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Daeeee Quick. Cara.... se me permite dar uma opinião de tio-véio-chato.... vou muito ao encontro ao que o gabrielnunes fala em sua resposta aqui. Quando a gente é novo, queremos ser "donos" do nosso nariz o quanto antes, fazer as coisas do nosso próprio jeito e dale. Mas vou te falar que trabalhar pros outros, mesmo que um tempo, faz bem. Faz bem pra tua cabeça tu ter a quem reportar, saca? Ter prazo pra cumprir. Levar chamada de atenção, mijada, etc, etc. Eu (opinião pessoal mesmo, tirada da minha cachola) acho que isso trás um crescimento pessoal que te ajuda la na frente, saca? Te ensina a lidar com algumas situações que tu não aprenderia de outra forma se não passando por elas.

Tem muitas coisas que você pode aprender de livros... tem outras tantas que é só vivendo... Tem um termo que uso muito, ultimamente, (e mais ainda agora que estou em uma posição de liderança técnica de um time de desenvolvedores), que é de "ter vida vivida". E essa "softskill" de vida vivida só vem vivendo mesmo.

Em resumo: eu acho que faz bem pra todo mundo ser funcionário em algum periodo da vida.

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queria ter esse tio velho que dá esse tipo de conselho sksks mas eu concordo com oque tu falou, ate porque pra ser chefe tu tem que saber como é ser funcionário. além de que experiência nunca é de mais né?kkk acho muito legal que pessoas com experiência de vida como você despendem um tempo pra responder e dar conselhos pra pessoas como eu

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Hey, Quick! Ter empresa é um caminho longo e árduo, haha. Eu já tive uma, mas não deu muito certo (depois de 10 anos existindo).

Você pode ir por um caminho de conseguir investidores, porém dai algumas coisas não poderão ser do seu modo e você tem que ter uma ideia que consiga convencer as pessoas a colocarem dinheiro.

Ou você pode ir pelo caminho "sozinho", que é bem mais difícil. Pode te trazer muitos resultados ou te deixar quebrado no futuro.

Eu comecei minha empresa quando tinha 20 anos e, hoje, com 32, eu penso que eu preferiria primeiro trabalhar em outros lugares, adquirir experiências, conhecer gente (muita gente) e depois abrir minha empresa.

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O problema não é só do Brasil.
Aqui em Portugal temos a mesma cultura de promover a cargos de chefia e gestão de pessoas os recursos tecnicos mais velhos. Não é valorizada e raramente é criada uma opção de carreira meramente técnica, para evoluir o caminho é quase sempre o da chefia o que leva quase sempre ao que tu descreveste (existem obviamente excepções), bons tecnicos que se perdem em maus gestores/lideres de equipa.

Também aqui aos poucos começa a ver-se alguma mudança no sentido certo, mas muito leeeenta... :-)

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