Quer ficar rico com um app? Então o primeiro passo é pare de construir em cima de WhatsApp e companhia
Vou ser bem direto: hoje eu acho que não vale mais a pena construir produtos que dependem demais de integração com aplicativos de big tech – tipo WhatsApp, produtos da Microsoft, Google, Meta ou Apple.
Não é birra, é sobrevivência.
A ilusão de “parceria” com big tech
Quando a gente integra um produto a um app gigante, num primeiro momento parece ótimo. Você ganha acesso a uma base enorme de usuários, teoricamente fica mais fácil distribuir o produto, e dá aquela sensação de que está surfando uma onda já pronta.
Só que, no fundo, o jogo é outro: a big tech está usando você como laboratório gratuito.
Você resolve uma dor real dos usuários em cima da plataforma deles, prova que existe demanda, valida o modelo, testa usabilidade, encontra o melhor fluxo. Tudo isso sem eles gastarem um centavo em P&D, design, produto, nada.
Quem faz esse trabalho? Você.
Quem aprende com isso? Eles.
Quando dá certo… é aí que dá ruim
O problema começa justamente quando o seu produto funciona.
Se a sua solução pega tração, começa a aparecer, viraliza, chama atenção, a big tech simplesmente pode olhar e pensar: “Beleza, já ficou claro que os usuários querem isso. Vamos colocar algo igual (ou parecido) direto no app principal.”
E aí pronto: em uma atualização eles matam o seu diferencial.
O usuário comum não está preocupado com quem teve a ideia primeiro. Se a funcionalidade está nativa no app que ele já usa todo dia, é ali que ele vai ficar. O seu app vira algo redundante, se torna um clique a mais para o usuário e, na prática, passa a ser descartável.
Ou seja: você trabalhou de graça para a big tech validar uma hipótese de produto.
Todo mundo trabalhando de graça pra eles
No fim das contas, quando a gente constrói em cima dessas plataformas, a lógica é meio essa: se o seu produto não der certo, morre pequeno e o problema é seu. Se o seu produto der muito certo, você vira um benchmark para eles copiarem.
É como se todos os desenvolvedores estivessem fazendo consultoria de inovação de graça para as big techs. Só que sem contrato, sem crédito e sem cheque no fim do mês.
Integrar é sempre errado?
Não é que integrar seja sempre errado. Tem casos em que faz sentido usar essas plataformas como canal de aquisição, e não como o produto principal, ou como complemento, e não como a base do negócio. Também pode fazer sentido usar como teste rápido, sabendo que aquilo é temporário.
O problema é apostar o core do seu produto na boa vontade de uma empresa que não tem nenhuma obrigação de te preservar. Pelo contrário: ela tem obrigação é com o próprio crescimento e com os acionistas. Você entra num jogo em que o dono do estádio, da bola, do juiz e da regra não é você.
O que eu defendo
O ponto aqui não é romantizar independência total, porque na prática sempre vai existir algum nível de dependência de infraestrutura, seja cloud, seja loja de aplicativos. A questão é não colocar o coração do seu produto em um lugar onde uma empresa gigante pode, a qualquer momento, te substituir com uma linha no release notes.
Plataforma tem que ser meio, não pilar. O foco precisa ser construir algo que seja seu de verdade: base de usuários própria, relacionamento direto, canal próprio, marca própria.
Se é pra errar, que seja errando em algo que é seu.
Se é pra acertar, que seja construindo valor para você – e não só alimentando o roadmap de uma big tech.