As férias (e a ansiedade)
Empreendedores nunca devem buscar estabilidade
Estava deitado na piscina, cerveja na mão, finalmente relaxando depois de meses de tensão, quando meu celular vibrou. Era um cliente reclamando. Em segundos, toda aquela paz virou angústia. Foi nesse momento que entendi algo fundamental sobre empreender: você pode fugir do trabalho por uma semana, mas não consegue fugir da realidade. A boa notícia? Existe uma forma de lidar com isso sem enlouquecer.
Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu compartilho minha opinião sobre férias, ansiedade, estabilidade, e como viver em paz em meio ao caos.
Férias
Ano passado, eu saí de férias nessa mesma época, meados de Setembro. “Férias", né? O que eu fiz foi aproveitar uma viagem de trabalho para os Estados Unidos. Aproveitei a ida ao SaaStr para levar a família para tirar alguns dias e conhecer Los Angeles e San Diego.
Escrevo a palavra férias entre aspas pois, por mais que eu tenha viajado e curtido, eu não desliguei 100%. Ficava de olho no Discord, no WhatsApp, para garantir que tudo estava rodando dentro dos conformes na minha ausência.
Na época, eu não dei tanto valor. Eu estava tão focado em construir o Tintim que decidi tirar essas férias muito mais pelo pedido da minha esposa do que, de fato, pela minha vontade. Pois saiba que eu estava completamente enganado.
Foi me desligando do dia a dia que eu percebi o quanto eu estava estressado, talvez à beira de um colapso. Foi só depois de voltar dos EUA que eu percebi o quão bem me fizeram essas duas semanas de pausa. Na época, até escrevi sobre o assunto.
Semana passada, eu e minha família tiramos uma semana de férias. Mas, dessa vez, eu estava mais consciente. Fiz questão de me desligar o máximo possível. Mutei notificações, saí dos grupos e avisei a todos, explicitamente: só me chamem se o mundo estiver desabando. Graças a Deus, não me chamaram.
Uma semaninha de descanso, sem fazer absolutamente nada. 6 dias inteiros dedicados a brincar com meu filho, e comer e beber com minha esposa na frente da piscina. Valeu muito a pena!
Problemas técnicos
Há umas duas semanas, nós tivemos alguns problemas técnicos aqui no Tintim, que demandaram atenção total de todo o time de tecnologia e de atendimento. Depois de um War Room de 14 horas, conseguimos corrigir o problema.
Essa sempre foi a parte que eu mais odiei em trabalhar com tecnologia: os incêndios, que paralisam a operação e fazem o time de tecnologia parar tudo o que está fazendo para se enfiar numa sala e só sair de lá com o problema resolvido.
Já fiquei anos “brigado” com a profissão por problemas como esse. Hoje, mais velho e mais maduro, entendo que isso faz parte do negócio. Quem trabalha com tecnologia trabalha, quase sempre, com operações críticas, que não podem parar. Muitas vezes, pontos importantíssimos da vida das pessoas estão nas mãos desses profissionais, como o ganha-pão de muita gente, e, em alguns casos, até vidas.
Além disso, quase sempre esse trabalho envolve inovação. Envolve quebrar o status quo e propor novos meios de fazer algo. Trabalhar com inovação significa trabalhar na linha de frente, muitas vezes descobrindo, junto com o mercado, o jeito novo de se fazer algo. Nesse cenário, inevitavelmente, em algum momento você vai tropeçar. É do jogo.
Acontece que fazia muuuuito tempo que não acontecia nenhum problema grave com a gente. Foi acontecer justo quando? Exato! Duas semanas antes de eu tirar férias.
Mas, pera. Estou olhando o copo meio vazio, né. Olhando o copo meio cheio, eu dou é graças a Deus que isso aconteceu duas semanas antes, e não justamente na semana da minha saída. Em vez de ter minhas férias paralisadas, o que aconteceu foi eu sair com um pequeno receio de o problema acontecer novamente. Não aconteceu, menos mal.
Durante as férias
Apesar do receio, eu consegui me desligar 100% de forma ativa. Como disse: mutei notificações, saí de grupos e ignorei todo contexto de trabalho que tenho no meu dia a dia.
Eu tenho uma rotina bem disciplinada. Por isso, decidi ativamente não ter nenhuma rotina, justamente para esvaziar a mente. Durante uma semana, eu fiz apenas o que me dava na telha. Brinquei muito com meu filho e conversei muito com minha esposa.
Li bastante, também, mas nada profissional, apenas entretenimento. Comecei as férias finalizando a biografia do Ayrton Senna. Na sequência, comecei a ler o livro Coisa de Rico, divertidíssimo, que mostra como vivem os ricos no Brasil e como eles se enxergam. Na sequência, comecei a ler o livro Bilhões e Lágrimas, que reúne histórias reais de pessoas poderosas da economia brasileira, para mostrar como o governo e empresas influenciaram o destino do país (como você pode perceber, o assunto “riqueza” me interessa muito).
Juntando o tema dos livros com o excelente período de descanso, eu me vi muito motivado a voltar focado em crescer ainda mais. Já estava super empolgado para voltar a trabalhar, renovado e pronto para produzir muito. Quando, de repente, recebo uma mensagem no WhatsApp…
Era um antigo cliente, muito querido inclusive, reclamando de alguns problemas na sua operação, decorrente do problema que tivemos duas semanas antes. De repente, eu me vi ansioso. Muito ansioso.
Aquela motivação deu lugar a uma angústia tremenda. Como assim, eu estava fazendo planos para o futuro sendo que nem o presente está garantido? Esse era o pensamento que passava pela minha cabeça.
Sorte que eu tenho anos de dedicação ao autoconhecimento. São anos de estudo, de terapia e psicanálise, que me proporcionam um ferramental bem diverso e efetivo para lidar com minhas questões pessoais.
Não cabe entrar no mérito, justamente porque essas questões são pessoais e únicas. Creio que falar disso em público não gera uma contribuição significativa, porque suas questões são suas questões, e minhas questões são minhas questões. Mas, acho que a conclusão que tirei disso tudo é bem útil e vale a pena compartilhar com você, empreendedor, que está aí do outro lado.
Conclusão
O ser humano busca pela zona de conforto. Isso é uma questão de instinto. Por mais que vivamos em um mundo civilizado, ainda somos seres primitivos. Nosso emocional ainda não sabe lidar com problemas modernos. Nosso cérebro ainda está programado para lidar com o leão, que está na espreita, esperando um vacilo para te comer vivo. É esse habitat que o nosso cérebro acredita que vivemos.
Mas, por mais que nós, como espécie, busquemos o conforto, precisamos entender que estabilidade não existe. O empreendedor, mais que qualquer outro tipo de gente, precisa se lembrar disso todo santo dia.
Empreender é tomar risco. Não existe jogo ganho. É preciso estar atento 100% do tempo. Ou você cresce, ou você cai. De novo: estabilidade não existe. Diante dessa máxima, é preciso fazer uma análise fria e racional: qual é o seu maior ativo?
O maior ativo de um empreendedor não é seu negócio, mas, sim, a sua capacidade de construir esse negócio. O que me tranquilizou durante essa breve crise de ansiedade foi olhar para tudo o que estamos construindo e perceber que o maior ativo que tenho não é o Tintim, mas, sim, o time que construiu o Tintim.
Em tempo recorde, nós tiramos um produto do papel e chegamos a R$ 10M de ARR. O melhor de tudo: não houve genialidade, mas, sim, muita capacidade técnica, dedicação e trabalho duro (e um pouco de sorte, também, que não faz mal a ninguém).
Se alguma merda acontecer no caminho, o que vai nos salvar é justamente a nossa capacidade de se virar para resolver o problema (tenha certeza que, em algum momento, alguma coisa ruim vai acontecer, isso é da vida).
A gente se virou pra tirar uma ideia do papel e colocar em prática. Se virou para escalar essa ideia para milhares de clientes. Se virou para montar um time foda, com qualidade foda e cultura foda. O nosso maior ativo, sem dúvidas, é a capacidade de se virar. Do mesmo jeito que nos viramos até agora, seguiremos nos virando no futuro.
Por isso, eu sempre que possível repito: seu maior ativo não pode ser dinheiro, não pode ser patrimônio, não pode ser emprego. Seu maior ativo deve ser você mesmo. Se não for, algo está muito errado, e é apenas questão de tempo até a queda.
✉️ Esta foi mais uma edição da Newsletter do Moa!
💪🏻 O meu objetivo com essa newsletter é ajudar profissionais de tecnologia que desejam desenvolver uma visão mais estratégica.
Além disso, pretendo também compartilhar outras coisas, como um pouco dos bastidores da construção de um negócio SaaS, as minhas opiniões e meus aprendizados. A ideia geral é ser uma documentação pública e estruturada dos meus pensamentos e aprendizados ao longo dos anos.
Portanto, se você se interessa por soft-skill, desenvolvimento pessoal, empreendedorismo e opiniões relativamente polêmicas, sugiro que você se inscreva para receber as próximas edições. ⬇️