O alto preço do crescimento acelerado
Você está preparado para aguentar a pressão?
No fim de outubro, batemos R$ 900k de MRR no Tintim. Crescer rápido é o sonho de todo fundador. O problema é que ninguém fala sobre o preço disso. Caos operacional, decisões no braço, gente boa saindo do time e problemas aparecendo.
Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu conto a verdade nua e crua sobre o que realmente acontece quando você cresce rápido demais.
O crescimento acelerado
No finalzinho de Outubro, nós cruzamos a marca de R$ 900k de MRR aqui no Tintim. Isso representa um crescimento de duas vezes e meia, no ano sobre ano. É um baita crescimento, e tenho um orgulho absurdo do excelente trabalho que estamos fazendo. Mas, nem tudo são flores…
Quem olha de fora acha que crescer rápido é mil maravilhas. Os clientes brotam do ladrão, o dinheiro jorra na conta corrente, e a gente só tem motivos para comemorar. Não é bem assim.
O crescimento do Tintim veio de muito esforço de todo o nosso time. Desde o momento em que um lead se depara com um anúncio nosso, até o momento em que ele rastreia sua primeira venda dentro do software, são vários times trabalhando ativamente para que isso aconteça.
Marketing, vendas, suporte, tecnologia… São várias equipes fazendo muito esforço para que esse cliente seja bem atendido e consiga extrair valor da ferramenta. E quando eu falo de esforço, eu não estou falando de forma figurativa…
Um dos maiores preços de crescer rápido é justamente não ter tempo nem recurso suficiente para resolver problemas usando tecnologia. Simplesmente não dá tempo de parar para ajustar certos pontos mais estruturais. Para compensar essa “falta de técnica”, a gente resolve o problema de forma manual, de forma não escalável. No braço.
Quando você cresce rápido, diversos problemas começam a pipocar. Problemas técnicos, como sobrecarga no sistema, instalibilidades internas, incidentes externos… problemas na máquina de aquisição, com o custo por lead ficando caro, o time de vendas sofrendo para sustentar a conversão, a dificuldade de encontrar lead de qualidade num preço aceitável…
Esse ambiente caótico acaba trazendo problemas no time. Não é todo mundo que aguenta a bucha. Volta e meia algumas pessoas-chave saem do time, e acaba faltando tempo para fazer novas contratações, afinal, as lideranças estão junto com a turma da linha de frente apagando incêndio.
O crescimento rápido antecipa problemas que você e o seu time não tiveram tempo de se preparar para enfrentar. Não resta outra opção a não ser aprender sob demanda, numa velocidade MUITO alta.
O trabalho e o meta-trabalho
Com o ritmo de crescimento da empresa, o ideal é que as pessoas do time cresçam, no mínimo, na mesma velocidade. Agora, se tem pessoas que DEVEM crescer o mais rápido possível são os fundadores da empresa. O limite de crescimento de uma empresa é, necessariamente, o limite de crescimento de seus fundadores.
Eu sempre fui um fazedor. Mão na massa. Por anos, trabalhei sozinho, sem ter ninguém no time, sendo responsável pela entrega de ponta a ponta. Por questões pessoais, nunca quis depender de ninguém para conquistar meu sustento. Até hoje, tenho muita dificuldade de confiar nos outros.
Por conta dessa característica, eu acabei me desenvolvendo nas duas principais áreas de uma empresa digital: receita e tecnologia. Foram 10 anos programando e liderando times que desenvolviam software, e depois mais 6 anos executando e liderando times de marketing e vendas. Segui o conselho do Naval Ravikant e aprendi a construir e vender.
Os primeiros dois anos do Tintim são frutos dessa minha habilidade. Nós chegamos perto dos R$ 300k~400k de MRR com um time enxuto, que mais parecia um esquadrão de elite. Todo mundo muito hands-on (inclusive eu), buscando o resultado no braço.
Deu certo, mas eu sabia que nossa capacidade era limitada. Por isso, o ano de 2025 foi focado em “diluir” esse time, criando uma empresa com áreas mais estruturadas e com líderes com responsabilidades mais claras e compartimentadas.
Agora, imagina o quão difícil foi pra mim largar o osso. O quão difícil foi confiar no trabalho de outras pessoas. Confiar que a pessoa ia fazer de um jeito diferente e que, mesmo assim, nós conquistaríamos os resultados desejados. Pois é… foi MUITO difícil.
Mas, deu certo! Praticamente triplicamos no ano de 2025, e eu posso dizer, sem sombra de dúvidas, que temos um time MUITO FODA, capaz de entregar resultado sem a minha presença. A Black Friday está aí para provar isso. Um resultado executado por marketing e vendas muito superior ao do ano passado, com um time de tecnologia e suporte recebendo esses novos compradores sem maiores problemas. O melhor de tudo: eu não mexi uma palha. 100% mérito do time.
O próximo desafio
Eu sou um fazedor. O time que formei é um time de fazedores. Se tem uma coisa que o pessoal não tem medo por aqui é arregaçar as mangas e meter a mão na massa. E o melhor? Todo mundo sabe pelo qual trabalha forte: porque queremos resultado! E esse é justamente o nosso maior desafio… Somos tão bitolados em conquistar as metas que impomos a nós mesmos, que, muitas vezes, acabamos só focando no curto prazo.
Se bem que eu não consigo imaginar outro jeito de crescer rápido sem ser focando no curto prazo. Sem ser fazendo o que for necessário para conquistar a meta. Acontece que essa postura cobra um preço. O preço da desorganização. O preço da ineficiência.
O desafio é conseguir identificar quando o crescimento acelerado está mais atrapalhando que ajudando. O desafio é ter a sabedoria de saber quando devemos tirar o olho do curto prazo, para ter tempo de trabalhar para garantir um longo prazo melhor.
Isso significa, então, que tem que crescer devagar? Não! O que se tem que ter é consciência de qual é o momento certo de jogar cada jogo.
No começo de uma empresa, por exemplo, é preciso crescer o mais rápido possível. Não importa a bagunça, não importa a ineficiência. É muito melhor ter problemas por excesso de vendas do que por falta. Crescer rápido coloca dinheiro no caixa, e dinheiro é recurso valioso para ajudar a resolver problemas.
Enquanto não se tem dinheiro em caixa, é preciso enfiar o pé no talo. Foi exatamente o que fizemos aqui no Tintim, e eu não me arrependo em nenhum momento. Essa postura foi intencional, inclusive.
Agora, depois que se tem produto e mercado validado, e também dinheiro no caixa, aí sim é hora de repensar seus movimentos. De começar a olhar distâncias um pouco mais longas e projetar um crescimento acelerado para o médio/longo prazo. Fazer o trabalho de fundação. Ajustar as ineficiências.
O crescimento acelerado continua sendo o nosso objetivo. A questão é que, agora, com fôlego, podemos escolher como esse crescimento acontecerá.
Estou ansioso por este novo desafio!
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