O que aprendi no Websummit Lisboa 2025
Confira todos meus insights do evento
70 mil pessoas envolvidas com tecnologia e startups. Uma semana em Lisboa. Quando você junta empreendedores, investidores e líderes globais no mesmo lugar, algo mágico com certeza vai acontecer. Eu resolvi atravessar o oceano para participar do Websummit, maior evento de tecnologia e inovação do mundo.
Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu conto o que aconteceu nessa viagem e quais foram meus principais aprendizados.
O Websummit Lisboa
No ano passado, eu resolvi embarcar rumo aos Estados Unidos pela primeira vez, para participar do maior evento sobre SaaS do mundo: O SaaStr. Foi uma experiência memorável, que me abriu os olhos em relação ao quanto estamos isolados aqui no Brasil, quando o assunto é conhecimento tecnológico.
A viagem ao SaaStr aconteceu em setembro do ano passado. Este ano, um pouquinho mais tarde, em novembro de 2025, eu decidi repetir a experiência, mas, agora, num evento diferente, num continente diferente: Websummit Lisboa.
O WebSummit é um dos maiores e mais influentes eventos de tecnologia, inovação e negócios do mundo. É um evento com mais de 70 mil participantes, entre empreendedores, investidores, executivos, jornalistas e líderes globais.
Eu resolvi participar do evento representando o Tintim. Tivemos um stand pequeno na área de startups para expor nossa empresa. Também decidi participar para buscar relacionamentos e conexões (as partes mais valiosas dos eventos).
Por fim, e não menos importante, também fui em busca de novidades para trazer para a empresa e também para você, leitor da newsletter. Abaixo, seguem os principais insights que tive conhecendo o WebSummit, conhecendo Lisboa, e conhecendo um pouco do mercado europeu.
Não espere conquistar clientes
Eu já tinha sido alertado pelos meus amigos Renan e Rodrigo, fundadores do Reportei, e, portanto, já tinha consciência e não esperava mesmo conquistar clientes para o Tintim.
Se a sua empresa não vende para grandes empresas ou startups, dificilmente você conquistará algum cliente por lá. Tanto que meu objetivo, mesmo, era entender o que está acontecendo no mundo e fazer networking.
“Mas, Moacir, então por que você pagou para patrocinar o evento e expor o Tintim?”. Porque era mais barato. Comprar a cota de expositor inteira saía mais barato do que comprar um ingresso de atendee. Esse foi o único motivo pelo qual decidimos patrocinar o evento. Para ser sincero, eu planejava não ficar no stand, justamente para aproveitar melhor a feira. Só resolvi ficar porque, chegando lá, descobri que tínhamos comprado apenas um dia de exposição, e não três.
E foi uma boa decisão ter ficado no stand. Assim como eu fiquei zanzando pelos stands nos outros dois dias, outras pessoas também fizeram o mesmo e conheceram o Tintim. Tive a oportunidade de conversar com diversos potenciais parceiros, e até alguns potenciais investidores.
Clientes? Como disse, quase zero. Até porque ainda não existe essa cultura de uso comercial de WhatsApp na Europa (já falo mais disso).
O mais legal são os side events
Como sempre, eu não assisti nenhuma palestra. O que fiz foi ficar passeando pela feira, conhecendo as soluções e, principalmente, conhecendo as pessoas por trás das soluções. Fazendo isso, eu consegui conhecer muita gente legal. Mas, o lugar que conheci mais gente legal não foi no evento…
Imagine só: são 70 mil pessoas de um nicho muito específico, do mundo todo, reunidas em um só lugar, na mesma semana. Para quem vende para esse público, é uma oportunidade rara de fazer negócios. A forma mais óbvia de vender para essa galera é patrocinando o evento. Mas, existe uma outra forma não tão óbvia, e talvez muito mais efetiva.
Os side events são eventos que acontecem paralelamente ao evento principal. Praticamente a todo momento estava rolando um side event. São cafés da manhã, almoços e, principalmente, jantares, num ambiente um pouco mais intimista e selecionado.
Praticamente todos os dias eu e minha galera participamos de algum side event. Teve evento do Supabase, evento do Ifood, evento da Globalfy… pra você ter uma ideia de quão poderosos são esses eventos, no evento do Supabase eu conheci duas mulheres europeias (não lembro a nacionalidade) que foram para lá só para fazer um café da manhã para alguns potenciais clientes. Nem ingresso para o evento elas tinham.
Tinha muito brasileiro por lá
A minha principal estratégia viajando para eventos como esse é me conectar com brasileiros. Imagino que você deva estar pensando “ué, mas precisa cruzar o oceano para conhecer brasileiro?”. Explico.
Quando faço essas viagens, meu objetivo é me conectar de forma estratégica. Eventos internacionais já são, por si próprios, uma barreira natural para aventureiros. O custo para ir ao WebSummit é, pelo menos, 10x maior do que o custo para ir ao RD Summit, por exemplo. Esse é o primeiro ponto.
O segundo ponto é que, no exterior, a característica “ser brasileiro” se sobrepõe a qualquer título profissional que a pessoa tenha no Brasil. Tenho amigos que, em condições similares, tiveram a oportunidade de conversar com o JP, CEO da Hotmart. Eu mesmo tive a oportunidade de conhecer o CEO de uma empresa que fatura R$ 100M+ por ano. Na gringa, todo brasileiro “é igual”.
Por sorte, tinha muitos brasileiro por lá, o que me fez fazer diversos novos amigos. Conheci brasileiros morando na Europa, conheci brasileiros que vendem para a Europa, conheci brasileiros que vendem muito para outros brasileiros. Pessoas interessantíssimas, com histórias de vida muito ricas.
Inclusive, descobri outra coisa relacionada ao tema: grande parte dos brasileiros que expuseram suas empresas no Websummit receberam incentivos financeiros da APEX e do Sebrae. Muita gente, inclusive. Isso me fez perceber o quanto estou isolado do ecossistema de startups e, consequentemente, o quanto de boas oportunidades estou perdendo.
A cada 10 empresas, 8 são de inteligência artificial
Falando sobre o evento, em si, não tenho nada de ruim a dizer, muito pelo contrário. Organização impecável. Eles são super bem organizados, possuem uma baita estrutura e, mesmo com o desafio de servir 70 mil pessoas, eu não tive nenhum problema (e nem fiquei sabendo de alguém que teve).
A qualidade das empresas expondo também é muito boa. Eu tive a oportunidade de conhecer muuuitas empresas. Coisa de 200, 300 empresas. E o que mais me chamou a atenção, apesar de ser um fato óbvio, foi que praticamente toda empresa tinha algum envolvimento com IA no seu core. Mais ainda as empresas Alpha, que era a classificação para aquelas em early stage.
Mas, confesso que vi poucas soluções desenvolvendo inteligência artificial. A grande maioria estava implementando. O que, obviamente, não é ruim, muito pelo contrário. Isso mostra que o mercado está se desenvolvendo.
A grande maioria eram empresas com soluções agênticas. Um ótimo exemplo para ilustrar: conheci uns franceses que estavam usando inteligência artificial para fazer a gestão de marketing de influência, de ponta a ponta. Eles implementaram IA no processo de elaboração da campanha, no processo de pesquisa de perfis, no processo de approach e negociação com os influenciadores, no processo de avaliação do material produzido, no processo de coleta e análise das métricas… Uma solução de EXTREMO valor, dada à natureza “artesanal” desse tipo de trabalho.
Meu único receio vendo todas essas soluções é: o quanto essa galera está vulnerável a uma OpenAI da vida copiar a proposta e matar sua empresa? Vale a reflexão.
Portugal está 10 anos atrasado quando o assunto é vendas por WhatsApp
Agora, falando especificamente do mercado do Tintim, que é vendas por WhatsApp, eu fiquei impressionado com o que vi.
Conversando com um garoto português, voluntário da feira, perguntei como ele fazia para agendar uma consulta no dentista. Ele disse que fazia uma busca no Google, pegava o telefone do local e fazia uma ligação. “Mas, e o WhatsApp, vocês não usam?”. Ele disse que WhatsApp é só para a vida pessoal.
Tive mais umas duas ou três conversas que confirmaram esse comportamento. O europeu ainda não tem o costume de usar o WhatsApp comercialmente. Ainda…
Conversando com uma brasileira que mora lá há algum tempo, ela mencionou que percebeu que esse comportamento está mudando. Ela teve esse insight quando viu uma loja, em Londres, instalando um novo letreiro que divulgava o contato de WhatsApp da loja, ao invés de divulgar o telefone. Ela disse que, depois de ver isso, começou a reparar que já existe um número, mesmo que pequeno, de estabelecimentos com letreiros similares.
Temos uma oportunidade? Não sei. É preciso olhar as estatísticas. O que eu sei é que, para modelos de negócio que envolvem WhatsApp, existe uma barreira bem chata de se lidar na Europa…
Europeu parece ser MUITO chato com GDPR
A GDPR (General Data Protection Regulation) é a Lei Geral de Proteção de Dados da União Europeia, vigente desde 2018. O problema? Ela é considerada a legislação de privacidade mais rigorosa do mundo.
Quer ver o quanto essa lei é rigorosa e o quanto o Europeu é cismado com privacidade? Em determinado dia, Mazini e Carmona, investidores do Tintim que estavam lá com a gente, saíram para almoçar e se sentaram à mesa com um sueco. Papo vai, papo vem, eles contaram o que o Tintim fazia e o sueco ficou abismado.
“Vocês têm acesso a todas as conversas? Como assim?!!?!”
Eles explicaram que a gente teve toda uma preocupação legal, e com segurança também, e que tudo estava dentro da lei. Explicamos também que o brasileiro não se importa muito com esse tema. Ainda assim, o sueco ficou abismado.
Difícil dizer se isso foi uma experiência isolada ou se, de fato, o europeu médio pensa assim. O que sei é que, ao mesmo tempo que existe esse pensamento, existe uma espécie de efeito rebote acontecendo, como o movimento eu/acc, liderado por Pieter Levels.
Mas, sem dúvidas, isso pode ser uma grande barreira para o desenvolvimento do mercado de vendas por WhatsApp na Europa.
Conclusão
Valeu a pena gastar uma bala para atravessar o oceano e expor minha empresa num evento em que meus compradores não estão? Valeu, e muito!
Como disse, meu objetivo principal era me relacionar com pessoas, e esse objetivo foi cumprido com sucesso! Conheci gente nova, revi antigos amigos, e estreitei relações com pessoas que já conhecia, sejam colegas, investidores e até colegas de trabalho (o Júnior, nosso head de vendas, foi comigo).
Também tive a oportunidade de gastar um pouco meu inglês fajuto, conhecendo empreendedores de outras culturas, e vendo, em primeira mão, o que está acontecendo de inovação no mundo.
Como também sou filho de Deus, consegui tirar uns dias para descansar e turistar. Não é todo dia que se viaja pela primeira vez para a Europa, né?
Por fim, e acho que mais importante, eu pude tirar um pouco a cabeça do dia a dia da operação e refletir com mais calma e clareza sobre os próximos passos do Tintim. Ano passado fiz algo similar com o SaaStr, e o resultado foi que dobramos de tamanho neste ano. Será que dobraremos de tamanho ano que vem novamente?
O que sei é que pretendo fazer uma viagem dessa por ano. Ano que vem acredito que o destino seja o Inbound, evento do Hubspot, que acontece em Boston.
Bora comigo?
✉️ Esta foi mais uma edição da Newsletter do Moa!
💪🏻 O meu objetivo com essa newsletter é ajudar profissionais de tecnologia que desejam desenvolver uma visão mais estratégica.
Além disso, pretendo também compartilhar outras coisas, como um pouco dos bastidores da construção de um negócio SaaS, as minhas opiniões e meus aprendizados. A ideia geral é ser uma documentação pública e estruturada dos meus pensamentos e aprendizados ao longo dos anos.
Portanto, se você se interessa por soft-skill, desenvolvimento pessoal, empreendedorismo e opiniões relativamente polêmicas, sugiro que você se inscreva para receber as próximas edições. ⬇️