Uma lista de todos os meus fracassos como empreendedor
Eu tentei hackear o empreendedorismo por uma década
O que um bot de spam no Twitter, uma impressora de fotos do Instagram e um site de seguidores falsos têm em comum? Todos foram parte de uma jornada que me ensinou mais sobre empreendedorismo do que qualquer MBA poderia ensinar.
Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu faço um resumo sincero dos meus 11 anos de empreendedorismo. Sem glamour. Sem cortes. De ideias que não venderam nada até o momento em que tudo começou a funcionar. Se você já falhou, ou tem medo de falhar, esse texto pode te poupar tempo (e talvez até algumas cicatrizes).
Uma década de empreendedorismo
Eu iria começar este texto contando que, em 2025, completam-se 10 anos desde o meu primeiro CNPJ. Mas, ao começar a escrever, lembrei que tive um MEI um pouco antes. Fui checar meus emails e descobri que abri meu primeiro CNPJ em 5 de agosto de 2014. 11 anos atrás!
Já são 11 anos de empreendedorismo “oficial", mas, lembro que meu primeiro empreendimento começou em 2010. Eu e mais três amigos, todos envolvidos com tecnologia desde sempre, decidimos criar uma agência de criação de sites. Nascia assim a Mexx (não me pergunte o porquê do nome). Da Mexx, nasceu o primeiro produto de tecnologia que eu criei.
Mexx Site Fácil
Nessa época, quando eu tinha cerca de 19 anos, eu consegui meu primeiro emprego em tecnologia. De forma beeeeem simplificada (era bem incomum o que eles faziam), eles faziam sites para diversos órgãos de saúde de vários países pelo mundo. Era um site que reunia publicações científicas sobre um subtema específico relacionado à área da saúde.
Quando entrei, a tecnologia era bem arcaica. Um PHP já desatualizado para a época, junto com algumas bases de dados proprietárias. Bem nessa época, estava rolando um movimento de modernização dessa stack, e a plataforma escolhida para os novos sites era o Wordpress. De repente, me vi desenvolvendo plugins e temas para Wordpress.
Os sites que a gente vendia na Mexx (era um side job) eram sites institucionais. Antigamente, numa internet em que não existia o Instagram, o “cartão de visitas virtual” de uma empresa era seu site. Havia uma boa demanda para esse tipo de serviço. Com o tempo, começamos a “padronizar a entrega”, já que a demanda era sempre parecida. Foi quando eu decidi juntar essa padronização operacional com os conhecimentos recém-adquiridos de Wordpress. Nascia, assim, o Mexx Site Fácil.
A ideia era simples: criar um sistema self-service, em que o próprio usuário fosse capaz de criar seu próprio site. Na prática, era um template pronto, com um painel de controle que permitia alterar títulos, parágrafos e cores. Na real, era um copycat do produto que a empresa que eu trabalhava vendia.
Obviamente, nunca chegamos a vender uma única unidade. O máximo que conseguimos foi implementar em um ou dois clientes, mas, com a gente mesmo dando manutenção (sendo que era muito mais fácil montar o site do zero do que usar esse sistema que construí rs).
Essa primeira empreitada não deu certo porque eu não tinha a mínima ideia do que era construir um produto digital. Em 2012, nem o mercado tinha muito essa ideia ainda. As primeiras “escolas” de produto, como Facebook, Twitter, etc., estavam começando a se formar.
Publicidade no Twitter
Em todo caso, o Mexx Site Fácil já mostrava essa minha natureza hacker. Nesse caso, eu tentei hackear o processo de construção de um site. Já no Publicidade no Twitter, eu tentei hackear a dinâmica da rede social para fazer publicidade segmentada.
Isso foi em 2011, no auge dos meus 20 anos. Estávamos no frenesi da chegada das grandes redes sociais no Brasil. Orkut entrando em declínio, dando lugar ao Facebook e ao Twitter, que, na época, era a maior delas. Eu, como um bom nerd, gostava de ficar pesquisando, fuçando e experimentando com programação. Foi quando tive acesso a API do Twitter e tive um momento Eureka, e decidi criar o Publicidade no Twitter.
Eu não entendia nada de marketing, publicidade ou propaganda, mas, eu entendia de código. “E se eu ficar monitorando hashtags e, conforme a pessoa postar determinada palavra, eu enviar uma propaganda?". Por exemplo: se uma pessoa postasse #fds, o perfil de uma casa noturna responderia o tweet oferecendo um convite.
Genial, né? Mais ou menos. É uma ideia que faz sentido e até pode ser efetiva, mas, no longo prazo, tende a deteriorar o valor da rede social. Ninguém twitta esperando resposta de bot fazendo propaganda, né?
Na época, eu não conseguia enxergar isso, mas o próprio Twitter conseguia. Tanto que ele impôs limites claros na API, que, na prática, inviabilizavam o uso do meu software em escala. Conclusão: o projeto não foi pra frente. Fiz site, fiz uma versão inicial do software, até cheguei a testar com alguns clientes reais, mas, dinheiro que é bom, nada.
(Fun fact: Diego Carmona, investidor do Tintim, já fez algo parecido. Descobri na entrevista que ele deu no Projeto SaaS).
Instaplay
Esse, talvez, tenha sido o projeto mais promissor, até a criação da Codevance. Ele nasceu em uma época em que eu queria ganhar muito mais dinheiro do que ganhava e, ao mesmo tempo, estava descontente com meu trabalho em tecnologia. Isso foi em 2013. Nessa época, um amigo tinha largado tudo e criado um serviço de cabines fotográficas, para eventos e comemorações. Em menos de 6 meses, ele estava fazendo uma BELA grana. Isso me brilhou os olhos.
Num almoço, ele me deu a dica: a empresa que vendia o software que ele usava também vendia um outro software que buscava publicações no Instagram com determinada hashtag, baixava a foto da publicação, colocava num layout bonitinho, e mandava imprimir (mecanismo semelhante ao do Publicidade no Twitter, inclusive). Alguns clientes já haviam pedido esse tipo de serviço, mas, ele não tinha tempo nem estrutura para entregar.
Então, ele me deu a letra: “Você só precisa comprar a impressora e o software. O resto eu te ajudo". Foi assim que nasceu o Instaplay. A proposta era transformar o convidado do evento em um fotógrafo oficial. Nós imprimíamos as fotos publicadas no Instagram pelos convidados, e as disponibilizávamos como brinde. Era uma lembrança inesquecível de um momento marcante.
Foi a primeira empreitada em que ganhei algum dinheiro. Além disso, foi no Instaplay que eu vivi, pela primeira vez, a experiência de empreender, de fato. Foi lá que eu fiz minhas primeiras vendas. Foi lá que eu fiz minhas primeiras entregas sem ter um chefe por trás, sendo 100% responsável pelo resultado. Foi lá que eu contratei e liderei um time pela primeira vez. Foi lá que eu fiz a gestão de caixa de um negócio pela primeira vez.
Esse foi meu primeiro negócio a dar certo, principalmente porque a ideia saiu de uma demanda de mercado, e não de uma tentativa minha de hackear um sistema para fazer dinheiro rápido. O negócio até tinha potencial para prosperar e se tornar uma empresa, de fato. Isso não aconteceu porque, na época, eu não tinha a coragem necessária para dar *all in *num projeto. Sem contar que também não tinha uma boa mentalidade. Eu queria ganhar dinheiro de forma fácil e escalável, e fazer eventos dá muito trabalho.
Instazen
Foi por isso que decidi apostar na minha próxima ideia: um software de automação de redes sociais que atraia seguidores. Na real, a ideia não era minha, mas, sim, cópia de uma empresa que já fazia isso. Eles vendiam esse software por R$ 297 por mês e, aparentemente, ganhavam MUITO dinheiro, dado o tamanho de suas redes sociais (anos depois, o dono do software virou meu amigo, por uma casualidade que não tinha nada a ver com o assunto).
Nessa época, eu já era gato escaldado e sabia que era muito trabalhoso tentar “hackear” uma rede social, então, fui buscar por alternativas ou, talvez, por softwares prontos. Depois de algumas pesquisas, descobri o Instagress. Descobri, também, que eles usavam uma tecnologia chamada SPA, que é um tipo de aplicação web que interage com o usuário em uma única página HTML. Sem entrar muito em detalhes técnicos, isso significa que eles não tinham uma API pública, mas, tinham uma API “privada”. O que fiz foi criar uma interface para consumir essa API.
Com uma semaninha de programação, eu me tornei um revendedor não oficial do Instagress no Brasil. Coloquei o nome de Instazen, e parti para as vendas. Como?? Usando o próprio Instazen.
A ideia era engajar automaticamente em publicações do meu público-alvo. Ao ver uma curtida, um comentário ou um follow, a pessoa tendia a ser recíproca e seguir de volta (de novo, eu tentando hackear a dinâmica de uma rede social).
Deu certo, e os clientes começaram a aparecer. Porém, junto com os clientes, chegaram as dores de cabeça. Comecei a receber reclamações constantes de bloqueio e banimento de contas (sério??). Por isso, fiquei com peso na consciência e decidi parar com o projeto (meses depois, o Instagress também saiu do ar. Devem ter recebido uma cartinha do tio Zuck).
Elege
Não me lembro ao certo quem veio antes, se foi o Elege ou o Instazen. O que eu me lembro é que esse também foi um projeto que praticamente não saiu do papel.
Long story short: eu fui contratado para tocar um projeto que havia sido abandonado em uma empresa. Durante alguns meses, eu ganhei muito dinheiro para colocar na rua um software que automatizava consultas cadastrais em planos de saúde.
O caso de uso era bem simples: para um laboratório, hospital ou clínica atender um paciente através de um plano de saúde, o estabelecimento precisava checar se esse paciente poderia, de fato, ser atendido. Manualmente, um atendente entrava no sistema do plano da saúde e checava se o paciente estava com o plano em dia, e se a categoria do plano cobria o atendimento. Imagina o tempo gasto nesse processo em um laboratório que atende 500-1.000 pacientes por dia, por exemplo?
No fim das contas, eu precisei reescrever o software, pois o codebase era muito lixo. Depois de meses de trabalho, o novo software chegou a ir à produção, mas, no meio do caminho, foi descontinuado. Eu, como consequência, fui desligado.
Como não havia nenhuma cláusula contratual relacionada à propriedade intelectual e non compete, eu decidi pegar aquele codebase e tentar vendê-lo. Então, fiz alguns* cold emails* e consegui uma mísera reunião, que não deu em nada. Mais uma tentativa fracassada de ganhar dinheiro.
Crescimento Social
Essa foi a minha última tentativa fracassada de ganhar dinheiro, antes de emplacar bons projetos, como Codevance e DevPro.
Nas minhas incursões por fóruns que falavam sobre “ganhar dinheiro online”, encontrei um daqueles sites russos que vendem engajamento fake em redes sociais. São sites em que você paga centavos por curtidas, comentários, seguidores, plays, etc.
O site que encontrei, em específico, liberava acesso via API. O que fiz foi implementar um sisteminha para interagir com essa API e, então, criei um site para revender esses serviços. Dessa vez, era tão elaborado que tinha até uma “amostra grátis” de 50 seguidores, para quebrar a principal objeção, que era a desconfiança sobre a legitimidade do site.
Nessa época, eu já tinha algum conhecimento sobre marketing digital, e sabia que se eu conseguisse uma fonte de tráfego qualificada, dava pra ganhar dinheiro. Eu já tinha essa fonte na cabeça: Google Ads (Adwords, na época). Ao tentar anunciar, descobri que vender engajamento falso iria contra as políticas de anúncio da plataforma (sério??). Um balde de água fria.
Mas, persisti, e descobri que o Bing era menos criterioso na checagem de suas políticas, então, consegui anunciar por lá durante uns bons meses. Obviamente, em determinado momento, eles me bloquearam.
O projeto chegou a faturar e até dar algum lucro, mas, nada muito expressivo. Achei a planilha de controle nos meus arquivos, e descobri que eu ganhei exatos R$ 938,59 de lucro. Uau!
Por mais que esse tenha sido um projeto fracassado, ele foi muito importante, pois, pela primeira vez, provei para mim mesmo que era possível ganhar dinheiro “no automático” na internet.
Conclusão
Escrever este texto foi quase que uma experiência catártica. Seguindo a ideia de Steve Jobs de que só é possível conectar os pontos quando se olha para trás, eu consigo perceber exatamente como cada projeto desse contribuiu para eu ser quem sou hoje.
Olhando para essas histórias, eu consigo perceber que sempre tive um grande diferencial: meu conhecimento técnico sobre programação, internet e redes sociais. Ao mesmo tempo, percebo que esse diferencial não era devidamente explorado justamente por conta de uma mentalidade ruim que sempre me assolou: a vontade de ganhar dinheiro fácil, sem me interessar genuinamente pelo outro e pelo problema que desejo resolver.
Graças a Deus, conheci o Henrique Bastos e os amigos do Welcome to the Django, que abriram meus olhos para a importância de gerar valor. Depois que entendi que o dinheiro é consequência disso, e não causa, minha vida decolou.
Depois de entender o valor de resolver o problema do próximo, eu consegui construir empreitadas de sucesso, como a Codevance, a DevPro e, agora, o Tintim.
Mas, apesar de tudo, tenho orgulho dessa trajetória. Revisitar essas histórias me mostrou que eu sempre fui perseverante, e que desistir nunca foi uma opção. As ideias eram ruins, a mentalidade era ruim, mas, a vontade de prosperar sempre esteve ali, firme, forte e constante.
Percebi também que, na medida do possível, eu não cometia o mesmo erro duas vezes. Os erros que cometi mais de uma vez eram relacionados à mentalidade e autoconhecimento, que, na época, estavam fora de minha alçada. Depois que entendi que meu maior obstáculo era eu mesmo, e passei a buscar o autoconhecimento de forma séria e intencional, esses erros não se repetiram mais.
Esses projetos ruins me forjaram como empreendedor. Me forjaram a ser quem eu sou hoje, responsável por bons projetos. Estou ansioso para saber quais serão os projetos do Moacir de 2035 (hehe).
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Além disso, pretendo também compartilhar outras coisas, como um pouco dos bastidores da construção de um negócio SaaS, as minhas opiniões e meus aprendizados. A ideia geral é ser uma documentação pública e estruturada dos meus pensamentos e aprendizados ao longo dos anos.
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