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Três casos de MVP brasileiros — Você já fez um MVP para um projeto seu?

Muitas pessoas aqui do TabNews já fizeram um Pitch sobre um projeto que desenvolveram para virar um negócio ou uma renda extra. Algo em comum em muitos desses casos é que, talvez pelos autores gostarem de programação ou terem facilidade com isso, esses projetos surgem de forma completa, depois de alguns meses de desenvolvimento, sem ter feito uma versão pequena para testar com o público se há demanda.

Esse é o conceito de MVP, mínimo produto viável: criar algo simples, de baixo (ou zero) custo, para ver se o negócio é viável.

Se você for procurar no Google, vai encontrar diversos sites contando as mesmas histórias de MVPs: Spotify, Facebook, Foursquare, Apple, Groupon, Twitter etc. Eu tentei pesquisar histórias diferentes, mas estava bem difícil encontrar algo. Então, pensei nos casos que eu já conhecia e fui atrás de mais informações.

Quero compartilhar aqui casos reais e diferentes, e abrir um espaço nos comentários para que outras pessoas possam divulgar outros casos que acham legais e não foram mencionados, ou divulgarem como foi o MVP de um projeto próprio: tanto a parte de produção do MVP quanto os resultados que ele trouxe.

1. Easy Taxi

A Easy Taxi surgiu em 2011, fundada por Tallis Gomes e Daniel Cohen. O objetivo era criar um aplicativo como o Uber, que surgiu em 2009, mas nessa época ainda não era conhecido.

"Eu estava participando de um evento para start-ups no Leblon e eu estava esperando por um táxi por cerca de meia hora em uma noite chuvosa. Naquela época, eu estava planejando criar um aplicativo de monitoramento de ônibus, mas eu mudei de ideia e decidi investir nesta solução." — Tallis Gomes (fonte)

Quando uma solução surge de uma dor real, já é algo positivo, mas ainda é preciso saber se outras pessoas tem essa mesma dor. Eis que surge a necessidade do MVP. Talvez você pense que um "MVP de Uber" seja algo complexo, precise ter um aplicativo mostrando o mapa, a interface do motorista, do passageiro, avaliações, cálculo de tarifa dinâmico... Mas, foi bem mais simples. O Tallis Gomes compartilhou como fez o MVP da Easy Taxi sem precisar de um programador:

Uma formulário simples, onde eu editei rapidamente o HTML para rodar. Nós não podíamos perder tempo e nem dinheiro.

Com essa landing page no ar, eu recebia as informações do passageiro, jogava a localização dele no Google Maps, selecionava a (extinta) opção "Pontos de Táxi ao redor", ligava para o ponto mais próximo, solicitava o Táxi para o passageiro e retornava o tempo de espera para ele.

E essa era a interface do MVP:

Um formulário com campo de Nome, E-mail, Endereço de partida, Endereço de destino e Cor da camiseta

A cor da camiseta era a referência para o taxista identificar o passsageiro. Hoje esse MVP poderia ser feito usando o Google Forms para cuidar do formulário (não sei se fizeram isso na época) e alguma hospedagem gratuita, como o Cloudflare, pagando apenas pelo domínio. O custo financeiro seria quase zero e o tempo de desenvolvimento quase nulo.

Depois de validar a tese, o aplicativo foi lançado em 2012. Nesse primeiro ano, desenvolveram o modelo de negócio, adquiriram mais de 5.000 motoristas e 200.000 usuários e conseguiram um investimento de US$ 4,9 milhões da Rocket Internet. Em 2013, a Easy Taxi participou de mais uma rodada de investimentos, angariando US$ 15 milhões. Acelerando para o fim da história, em 2019 a empresa foi adquirida pela Cabify.

2. G4 Educação

Esse caso eu já ouvi algumas vezes em diferentes podcasts, mas não lembrava exatamente onde. Procurei no Google e uma referência que encontrei foi pelo podcast Powercast, para quem quiser ouvir na íntegra.

Esse caso é mais distante da realidade da maioria dos empreendedores porque, na época da criação desse negócio, os fundadores já eram bem conhecidos e já tinham experiências com outras empresas: o Tallis Gomes com a Easy Taxi e a Singu, o Bruno Nardon com a Kanui e a Rappi, e o Alfredo Soares com a XTech e Vtex.

A G4 Educação foi inicialmente chamada de Gestão 4.0. Os três fundadores estavam pensando em fazer um "curso de verdade", onde quem ensinava já tinha vivido a experiência no mercado, e começaram a elaborar isso no fim de 2018.

Fizeram um pitch no story do Instagram em Janeiro de 2019, cada um no seu perfil. O story era simples, eles estavam em casa e o pitch era sobre o que iriam falar no curso. A reserva para o curso era R$ 1.000. Cada um tinha uma especialidade para ensinar: gestão, vendas e crescimento com eficiência. Eles criaram uma landing page para deixar o link no story, usaram um CNPJ existente do Alfredo Soares que não estava sendo usado e uma conta no PagSeguro.

Com isso, conseguiram 500 reservas apenas fazendo esses stories nos três perfis do Instagram, enquanto que eles tinham se planejado para atender uma turma de 50 pessoas. Pensaram "vamos ver se realmente vão querer quando dissermos o valor", que era R$ 10 mil. Ligaram para 70 pessoas, e 50 pagaram. O preço da terceira turma subiu para R$ 12 mil.

A princípio, achavam que era demanda reprimida, mas quando chegou na quinta turma perceberam que existia um negócio real ali, tanto pela quantidade de interessados quanto pelo perfil das pessoas. Só então montaram o negócio "para valer". Começaram a ter cursos diferentes, presenciais e não presenciais, contrataram outras pessoas e estão em funcionamento ainda hoje.

3. curso.dev

Eu ia contar apenas dois casos de MVP, mas escrevendo sobre "curso de verdade" no caso anterior, lembrei do Pitch do curso do Filipe Deschamps.

Eu não posso dizer que ele fez um MVP como os outros, algo super simples e rápido para validar a demanda. Minha impressão é que o Filipe investiu bastante tempo antes de começar a vender o curso. Antes de fazer seu papel de vendedor, ele já começou como programador, professor e editor de vídeos.

Apesar disso, acho que tem alguns pontos que podemos ressaltar. O Filipe descobriu a demanda por um curso conforme desenvolvia o TabNews.

O desenvolvimento do TabNews sempre foi compartilhado com os membros do seu canal do YouTube, e sempre surgiam comentários sobre "estar aprendendo na prática" ou "ver um projeto real surgindo, com todos os erros e acertos", além do Filipe compartilhar o motivo das decisões tomadas. A ideia de ter um curso sobre isso foi dando as caras, ainda sem uma forma muito certa.

O curso foi mencionado publicamente no vídeo Precisamos conversar sobre assuntos sérios :). Ele disponibilizou um link para as pessoas se inscreverem para saber novidades sobre o curso, podendo usar isso para medir a demanda.

Ter o TabNews numa versão mais "estável" e pública passou a ser um dos requisitos para começar o curso. E eis os pontos positivos de um MVP que o curso.dev tirou proveito:

  • A plataforma usada no curso teve como base o TabNews: isso significa menos programação necessária para o MVP/lançamento.
  • O projeto ensinado no curso é o próprio TabNews: o Filipe percebeu que as pessoas queriam aprender sobre o desenvolvimento de um projeto assim, e o projeto já estava feito, ele não precisou inventar algo novo. Precisou apenas dividir em partes e tornar didático.
  • O curso não foi lançado após estar 100% pronto: o lançamento rápido e a criação das aulas conforme a demanda de quem está assistindo possibilita fazer algo que as pessoas realmente tem interesse, além de conseguir entender o ritmo dos alunos.

4. O seu MVP

O intuito dessa publicação foi compartilhar exemplos para os empreendedores daqui ampliarem sua visão sobre a simplicidade e como aproveitar as coisas que já possui. É claro que os exemplos de MVP conhecidos acabam sendo empresas que deram certo, empreendedores conhecidos, ou casos que estão mais próximos da nossa realidade. Por isso, quero fazer um convite:

Se você já fez um projeto e está ganhando dinheiro com ele, como foi o processo de MVP e lançamento? Como você validou a demanda? Você acha que poderia ter feito algo ainda mais simples de início?

Compartilhe suas experiências nos comentários e talvez você inspire alguém que está desenvolvendo um projeto agora, além de ter um espaço para divulgar o seu.

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Meu MVP que deu certo foi a AlertPix.

É uma plataforma que permite streamers receberem doações Pix nas lives e exibir alertas de doação customizados.

O MVP foi bem simples:

  • login/cadastro com twitch (e segue assim até hoje)
  • criar uma página de doação com o username do streamer com um form pra doação
  • todo o fluxo de criação de QRCode pix e pagamento, integração com get de pagamento eu copiei e colei de outro produto meu que falhou, foi só conectar o form da página de doação
  • widget de qrcode
  • widget de alerta
  • saque caía no discord e eu fazia manual

A aplicação era isso no começo. Testei com alguns streamers internamente e depois lancei o produto aqui e no Twitter.

Depois fui indo direto aos streamers e fazendo contato com eles pra conseguir eles como clientes ou só pra saber se tinham interesse e qual a razão de não terem interesse se esse fosse o caso.
Assim eu consegui proximidade com todos e até hoje, eu evoluo o produto usando feedbacks.

Segui forte abusando dos algoritmos. Toda semana faço micro lançamentos e não deixo de postar todos os dias sobre o produto no Twitter. (em breve a presença aumenta em outras redes também)

Assim eu consigo novos cadastros de forma constante e orgânica.

Há pouco tempo chamei um sócio pra dividir comigo as responsabilidades e conseguimos melhorar muito a evolução do produto e nossa conexão com os clientes.

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Rafa, muuuito obrigado por listar o curso.dev 💪

E para complementar, eu diria que o curso nasceu de verdade através dessa publicação: Vídeo tutorial: Como está sendo programado as TabCoins aqui no TabNews.

Nela, o rodrigoKulb fez esse comentário, mais especificamente nessa parte:

Caramba @filipedeschamps já começou o curso sem avisar hahaha!!

Conteúdo de qualidade já no formato de curso 🤩️.

Isso explodiu minha cabeça na época, porque eu queria fazer um curso, mas todo mundo pedia um curso para iniciantes (começar do zero), e esse vídeo tutorial em conjunto com o comentário do Rodrigo (e de outros que surgiram depois) me deram a coragem de focar o escopo do curso na recriação do TabNews.

Mas de fato, o "MVP" do curso.dev fica confuso de saber onde é, por conta do TabNews já ter passado pelo estágio do MVP e o curso.dev embarou em cima. Mas daria para dizer que o MVP do curso foram duas páginas: a Home e a Introdução, que foi a "primeira aula de todas". Coloco entre aspas, porque não era uma aula, era só um vídeo meu falando (sem cortes). Nessa época não tinha sistema de aulas e era uma página estática (tipo qualquer página de conteúdos do TabNews). Ou seja, dava para acessar ela até sem login 🤝

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Bem lembrado, Uriel! Eu já ouvi o João Pedro Resende (CEO da Hotmart) contando como foi o início algumas vezes mas não lembrei quando fui escrever o artigo. Agora, que você comentou, pesquisei e encontrei um artigo na Endeavor contando alguns detalhes:

Os sócios começaram criando uma Landing Page branca que tinha apenas quatro informações: o logo da Hotmart, dois campos explicando os benefícios para afiliados e produtores de conteúdo e um aviso de que a tecnologia estava em desenvolvimento. Enquanto programavam a plataforma, a página formava uma base inicial de interessados. Na semana em que MVP iria para o ar, tinham acumulado 2 mil contatos cadastrados na lista de interesse.

Por um ano e meio, a rotina dos empreendedores era basicamente a mesma: saíam do trabalho no fim do dia e passavam a noite programando. No final de 2010, lançaram a versão alpha da Hotmart: uma plataforma para produtores digitais que poderiam vender eBooks com a ajuda de uma rede de afiliados, revendedores que usavam canais digitais próprios para promoção da venda.

Para quem quiser saber mais, também tem um artigo de 2013 falando sobre como estava a Hotmart um ano depois de vencer o Desafio Buscapé, que foi onde conseguiram um aporte financeiro para tocar a empresa.

“Nosso escritório ainda fica em Belo Horizonte, mas usamos boa parte da estrutura do Buscapé como corporação, como o setor jurídico e o tributário”, disse João. Segundo ele, o Buscapé ficou com 30% da startup após fechar o aporte de R$ 300 mil. “Eles ajudam desde a parte operacional até a fazer contatos e fechar parcerias com pessoas estratégicas e isso agrega muito valor.”

A Hotmart tem uma história bem legal e movimenta grande parte das transações de infoprodutos no Brasil hoje.

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Muito bom o artigo Rafael!
Além da validação de interesse do mercado via Landing page, stories e etc, dia vejo muitos mvps sendo validados através de aplicações low-code, onde a pessoa consegue validar interesse / modelo do produto