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Efeitos do Instagram na minha vida (Relatos de um sobrevivente)

Vou escrever um relato sobre minha vida e o impacto das redes sociais nele. Vou aproveitar pra fazer isso já que estou de férias, e vai que esse relato pode ajudar alguém de alguma forma, ainda mais em uma época com tanto ruído. Já adianto que aqui é um relato sincero e com o interesse genuíno de passar a verdade do que de fato aconteceu e o que fiz genuinamente para conseguir passar por isso, além do impacto positivo disso na minha vida.

O ano era 2022. Nessa época, minha vida desmoronou. Perdi o emprego que eu tanto me orgulhava de dizer que tinha, me envolvi com uma mulher que nada tinha a ver com quem eu era de verdade. Em vários níveis da minha vida, tava tudo sendo arruinado. Eu era extremamente apegado a coisas superficiais e que, no fim, não tinham tanto valor. E foi justamente nessa época, quando tudo tava dando errado, que resolvi fazer uma pausa pra refletir sobre minha vida e consegui perceber diversas pontas soltas que estavam no meu controle de resolver. E uma dessas coisas que, com certeza, era extremamente prejudicial para minha vida, era o Instagram. Foi quando tomei a decisão de passar 1 ano sem usar ele e sentir o que aconteceria comigo se eu conseguisse fazer isso alinhado com objetivos que de fato faziam sentido pra mim.

Mas antes de relatar o que aconteceu no ano seguinte (2023), eu gostaria de falar um pouco mais sobre o ano de 2022. Eu trabalhava para uma Soft House, meu trabalho lá estava padronizado, eu conseguia fazer as coisas que me competiam muito bem e até relativamente rápido. Tanto que era frequentemente elogiado pelo meu bom trabalho.

Maravilha! Eu fazia um bom trabalho.

Só que, no meio disso, começou a sobrar algum tempo. Não era tanto, mas me sobrava ali um tempo. E, nesse meio tempo, criou-se o gatilho — o “gatilho do diabo” — que no começo parece de boa, inofensivo.

"Vou dar uma olhada no meu Instagram pra ver o que tem de novo lá.” Olhava, beleza, não tinha nada, e logo voltava a trabalhar. Só que isso começa a te passar a perna. Uma coisa que era pra demorar 30s agora tava demorando 10, 15, 30 minutos.

"Olha só o que tá acontecendo com a economia global"

"Uma nova IA promete tomar o seu emprego"

"Ankara Messi, Messi, Messi, gol gol gol gol gol"

"Estude 6 meses e ganhe R$ 5 mil"

"Invista seu dinheiro de forma inteligente"

"Olha só a minha vida perfeita"

"Olha aqui como minha vida é boa também"

"Que coisa engraçada, vou mandar pro meu amigo"

"Nossa, deve ser tão legal viver isso, que inveja. O que tenho que fazer também? Compre o curso"

Cara! Eu não tenho palavras pra descrever o sentimento de esgotamento mental que eu ficava. Minha cabeça não cabia mais nada, e o pior… o que, no meio daquilo tudo, era verdadeiramente útil pra mim? E pior ainda: o que, no meio de tanta informação, meu cérebro conseguia armazenar para ser aplicado ao contexto em que eu estava?

É óbvio que eu não tinha capacidade para me fazer essas perguntas na época.

Nesse meio tempo, eu vi colegas de profissão que estavam estudando ferozmente coisas mais avançadas e passando de nível, conseguindo um melhor salário em empresas muito boas, aproveitando o bom momento do mercado. Eu até estudava também, mas não me dava o tempo necessário para verdadeiramente aprender aquelas coisas novas.

Depois de chegar até aqui nesse relato, fica fácil perceber: "Por que você não colou nesses amigos e fez a mesma coisa?”. A resposta é simples: o gatilho do diabo não te deixa evoluir, ele te deixa estagnado, conformado, te deixando cego para o que é simples e prático para sua própria vida, fazendo você focar em problemas que não são bem problemas. E isso, meus amigos, se conecta com a próxima coisa.

Crises sempre vão existir. O tanto que tu vai ser atingido por elas, em boa parte dos casos, é muito sobre o que tu fez quando estava em um bom momento. Foi quando, ainda fazendo bem o meu trabalho, veio o baque, sem esperar: "Vladimir, a empresa está mudando de rumo e por isso não faz mais sentido te manter aqui.”

Pronto. Foi aí que parei para refletir sobre tudo o que tinha acontecido naquele ano. Resolvi tirar todas as coisas que eu considerava podres da minha vida.

Comecei o ano de 2023 focado apenas no que era essencial. Eu até criei um mantra pra mim mesmo: "Seja simples e prático". Longe de distrações e 200% focado, junto dos amigos certos que estavam me ajudando a me restabelecer no mercado. Me lembro de ter visto uma vaga da Me Poupe, tomei a decisão de aprender tudo o que tinha naquela vaga e ficar bom naquilo — coisas como Docker, que até então eu nunca tinha usado, Nest, fortalecendo o meu entendimento sobre SOLID e arquitetura. No geral, eram coisas mais voltadas para o lado do back-end; me faltava ter mais conhecimentos sólidos sobre o assunto. Montei um plano de estudo e fui estudando linha por linha, tópico por tópico, tentando aplicar, tentando explicar para os outros.

E o detalhe importante aqui: fazia tudo com paciência e dentro da minha capacidade cognitiva, no meu tempo, sem me comparar com ninguém e nem me preocupar com o resto. Ora, era uma coisa que eu queria aprender, e eu acreditava que aprendendo genuinamente aquilo, eu colheria frutos. Foi então que veio a demissão em massa da Me Poupe. E essa era a notícia frequente: diversas empresas estavam demitindo em massa. Mas sabe o que é interessante? Eu via isso, mas o meu mantra me protegia — "Seja simples e prático" — e eu voltava para o que eu tinha alinhado pra mim mesmo. E mesmo sabendo que a vaga à qual eu tinha me dedicado com tanto afinco já não estava mais contratando, eu estava tranquilo, fazendo aquilo que eu tinha me comprometido a fazer. Minha reserva financeira estava se esgotando, e é incrível como eu estava tranquilo. Eu estava tranquilo, estudando e sendo "Simples e prático", tudo aquilo que estava fora do meu controle eu simplesmente não me importava.

Foi quando publiquei no LinkedIn um post sobre Docker. Consegui uma conexão, e ele me perguntou se eu queria que ele me indicasse na empresa que ele trabalhava, que estava contratando. Ele me indicou e, quando fui ver a vaga, adivinha? Era exatamente o que eu tinha estudado, pensado e ensinado por meses, e tirei de letra em todas as etapas do processo, conseguindo o trabalho.

Nos primeiros meses de trabalho, eu estava 200% focado para conseguir pegar ali todos os processos e mais uma vez fazer bem o trabalho que era esperado.

(Cabe um parêntese aqui: galera, tava indo tudo tão bem que até uma namorada mais alinhada com meus objetivos eu consegui. Pena que depois deu errado. Mas essa história fica pra depois.)

Depois de uns meses trabalhando, eu voltei para aquela mesma sensação lá do início desse texto: as coisas já estavam padronizadas e eu conseguia realizar tudo rapidamente, e mais uma vez me sobrava tempo. Sabe o que fiz dessa vez? Continuei estudando, sendo simples e prático, sem as distrações. Porque nunca se esqueça: crises virão, e esse novo trabalho poderia de novo simplesmente não me achar mais importante. E, como esperado, ela veio ainda no mesmo ano.

O CTO da empresa marcou uma call comigo, me elogiou de todas as formas possíveis, disse que todos falavam muito bem do meu trabalho, mas que a empresa estava passando por uma reestruturação e por isso não fazia sentido me manter lá. Eu agradeci e fiquei muito grato por tudo.

As notícias de empresas demitindo em massa não paravam. Me veio o sentimento de: “Caramba, eu não vou mais conseguir uma vaga desse jeito. O que eu fiz de errado dessa vez?”. Mas uma voz lá no fundo me dizia: "Seja simples e prático". Eu não tinha feito nada de errado; para aquele momento, eu fui o melhor que eu conseguia ser em pensamentos e ações. Eu fui exatamente como o Cortella diz: "Vai fazer o possível ou o melhor? Não é o melhor do mundo. Se for isso, ótimo. É fazer o seu melhor nas condições que você tem, enquanto não tem condições para fazer melhor”. Então, mais uma vez, eu fiquei tranquilo. Não me desesperei, eu tinha sido excelente até aquele momento, eu fiz o meu melhor.

Pessoal, é incrível! A vaga veio até mim! É isso mesmo, a vaga veio até mim! Eu nem sequer fui atrás dela. Apenas comuniquei para meus amigos de profissão que tinha sido demitido e não fiquei que nem um louco aplicando para todo tipo de vaga que eu via. Quando fui demitido dessa vez, eu me permiti umas férias pra ficar de boa, porque eu merecia, pô. Quando vi a vaga, parecia que tudo o que eu tinha feito até então tinha me preparado para ela. E o salário era 2x mais do que eu ganhava, muito mais dinheiro do que eu poderia imaginar ganhar em tão pouco tempo. Eu tava mais do que pronto pra ela.

No final das contas, o tempo que eu estava desperdiçando futilmente no Instagram estava drenando uma energia que eu poderia estar usando para coisas simples e práticas da minha vida. Eu acredito verdadeiramente que estamos a uma distância de coisas simples e práticas para atingir o próximo nível. A grande questão é: o que são essas coisas dentro do nosso próprio contexto?

E, ao chegar aqui nesse ponto do texto, eu percebo uma coisa: nesse exato momento, estou de férias e sou responsável por partes bem críticas do software da empresa em que trabalho. O “gatilho do diabo” está sempre à espreita, é uma guerra contínua. Temos que sempre ficar ligados para conseguir perceber o que verdadeiramente é simples e prático para o nosso contexto atual e, assim, conseguir passar de nível.

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