Pare de romantizar o trabalho e empresa
Empresas não querem funcionários, querem resultado. Com essa onda de IA isso ficou ainda mais claro. Se você pode ser substituído, você vai ser. O mercado não liga para você. Empresa não é ONG.
As empresas estão investindo bilhões em IA, muitas vezes sem lucro imediato, e liberando ferramentas de graça. O que antes seria patenteado hoje é jogado no mundo como open source. Não é bondade. É estratégia. Elas ganham padrão, dependência e mercado.
Esse papo de cultura, fit cultural, “somos uma família”, promessa de crescimento, participação nos lucros, trabalho remoto, salário alto… nada disso é porque a empresa se importa com você. É porque em algum momento isso deu mais resultado. Quando a oferta de mão de obra aumenta, tudo muda. Benefícios somem, exigências aumentam e seu valor cai. Trabalho remoto, por exemplo, nunca foi benefício, sempre foi ferramenta de atração.
Você trabalha 8 horas por dia, às vezes mais. Em muita empresa, não fazer hora extra ou não trabalhar fim de semana é mal visto. Esperam que você tenha “senso de dono”, mesmo não sendo dono de nada. E todo mundo sabe: se aparecer alguém melhor, mais barato ou que entregue o mesmo, você roda sem cerimônia.
Mesmo assim, muita gente romantiza trabalho e esforço. Repete que “quem não conseguiu é porque não se esforçou o suficiente”. Outros abrem empresa própria e passam a trabalhar 12 horas por dia, de segunda a segunda, fazendo o trabalho de três pessoas. Os dados mostram outra coisa: a maioria das empresas quebra em poucos anos. Pouquíssimas sobrevivem por décadas. E não se iluda achando que você é diferente. Provavelmente não é.
Tem também essa autoenganação de “agora vale a pena porque é meu negócio”. No fim, trabalho continua sendo troca de tempo de vida por dinheiro. E uma parte grande desse dinheiro vai embora em imposto, na marra. Se não pagar, você é punido. Quanto mais trabalha, ganha e consome, mais paga.
Essa conversa de diferencial também cansa. Você não é protagonista. Tem muita gente tão capaz quanto você. Habilidades que levaram anos para aprender hoje podem ser copiadas, absorvidas ou automatizadas em pouco tempo. O que era diferencial vira requisito básico muito rápido.
Quem já jogou competitivo entende bem isso. No topo, poucos são realmente fora da curva. Abaixo disso, todo mundo é parecido. O que decide é detalhe, constância, horário, sorte de cair em time bom. No trabalho é igual. Muitas vezes você só deu sorte de cair numa empresa decente.
Tem gente que vende networking como solução mágica. Outros mostram que dá para crescer fazendo o básico bem feito. No fim, é isso: faça o feijão com arroz direito. Seja útil. Entregue o que precisa ser entregue.
Então, para de se cobrar o tempo todo. Para de tentar surfar toda onda nova, de viver ansioso com tecnologia que nem virou mercado ainda. Não romantize trabalho. Trabalhe bem e, se puder, trabalhe menos. Aprenda o que realmente tem demanda real e não hype.
Se você gosta de aprender coisas novas e criar projetos, ótimo. Mas se matar para estar sempre à frente, sempre atualizado e sempre dando 110% raramente compensa. No fim das contas, você é descartável. Aceitar isso dói menos do que viver fingindo que não é.