Além do 'Vibe Coding': Minha tentativa de Organizar o Caos do desenvolvimento com IA
Desde que comecei a usar LLMs para desenvolvimento, nunca me pareceu razoável simplesmente solicitar uma tarefa e deixar que a IA se virasse com as suas próprias regras e criasse um resultado. Isso era o que eu entendia como vibe coding e sempre me soou um pouco arriscado.
Sempre pensei numa IA como um integrante "humano" da minha equipe. Isso talvez porque estou numa área um pouco mista, que mistura engenharia mecânica, ciência de dados e relacionamento com o cliente. E desde a primeira vez que estive envolvido na gestão ou colaboração com pessoas, sempre considerei que regras, metas e afins devem ser claras e estruturadas para que o trabalho flua bem.
Dito isso, no início, quando percebi que estava escrevendo sempre as mesmas coisas, as mesmas regras, criei vários arquivos com prompts prontos para agilizar o trabalho. Assim que tive a oportunidade de usar agentes, esses arquivos foram naturalmente importados para os projetos.
Recentemente, me deparei com o conceito de "Engenharia de Contexto" que vi em um post da Keit Olle (@k8adev), que chegou a mim por um vídeo que assisti no canal do Lucas Montano.
Resolvi fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre esse tema e acabei por "criar" e formalizar um sistema que tenho chamado de A-SDLC (Agentic Software Development Lifecycle), um Framework para Desenvolvimento de Alta Velocidade e Alta Qualidade com Agentes de IA.
Não atuo exatamente como um programador e, talvez por isso, a estrutura possa parecer básica para a maioria do público deste site, mas acredito que possa ser de alta valia para pessoas com objetivos parecidos com os meus, que estão mais focadas em processos, gestão e na orquestração do trabalho.
Como eu estruturei o A-SDLC?
O framework que desenhei é, na prática, a formalização daquela minha crença inicial: tratar a IA como um membro da equipe que precisa de diretrizes claras. Ele se baseia em três pilares que surgiram da minha pesquisa:
1. Engenharia de Contexto: A Base de Tudo Este é o coração do framework. Em vez de prompts soltos, eu proponho a criação de um
PROJECT_CONTEXT.md. Este arquivo funciona como a "constituição" do projeto, um manual de instruções perfeito que o agente deve seguir. Nele, eu defino:
-
Arquitetura e Padrões: A pilha de tecnologia (linguagens, frameworks, bancos de dados) , e a adesão a princípios como SOLID e DRY.
-
Segurança e Conformidade: Diretrizes como as do OWASP Top 10 e regras para o tratamento de dados sensíveis.
-
Dependências Aprovadas: Uma lista explícita de pacotes permitidos para evitar que a IA "alucine" bibliotecas inexistentes ou inseguras.
2. A Equipe Virtual: Um Sistema com Múltiplos Agentes (MAS) Percebi que um único agente não era suficiente para um trabalho complexo e de alta qualidade. Por isso, o A-SDLC utiliza uma "equipe de desenvolvimento virtual", onde cada agente tem uma especialidade:
-
Agente Orquestrador: Ele recebe a tarefa, lê o
PROJECT_CONTEXT.md, cria o plano de ação e delega as subtarefas. -
Agentes Especialistas: Cada um com uma missão clara, como o Agente de Escrita de Código , o
Agente de Escrita de Testes (com metas de cobertura) , o
Agente de Refatoração e até um
Agente de Análise de Segurança.
3. Governança Humana: O Desenvolvedor como Revisor Estratégico Esta é a parte que conecta tudo à minha filosofia de gestão: nenhum código deve ser confiavelmente implantado sem supervisão humana. O A-SDLC formaliza a "Intervenção Humana no Loop" (HITL). O papel do desenvolvedor muda de autor para o de um revisor e guardião da qualidade. Ações de alto risco, como adicionar dependências ou modificar o esquema do banco de dados, pausam o fluxo e exigem aprovação explícita de um humano antes de continuar.
Conclusão
Essa jornada, que começou com arquivos de texto para agilizar meus prompts, me levou a um sistema estruturado que, espero, possa ajudar outros a pensar em como organizar o trabalho com IA. É a minha tentativa de trazer a clareza e a estrutura da gestão de pessoas para a gestão de agentes de IA.
O relatório completo da minha pesquisa, com todo o detalhamento, fases, matriz de riscos e referências, deixo abaixo para caso alguém tenha mais interesse em se aprofundar nesse assunto.
https://drive.google.com/file/d/1rqDzixwOBdEHyp6azOMf4dkuNmmKOJjt/view?usp=sharing
Gostaria muito de ouvir a opinião de vocês. Essa abordagem faz sentido? Como vocês têm organizado seus próprios processos? Todo feedback é bem-vindo!
Não é nescessáro exatamente um sistema pra usar esse Framework, como disse antes vc pode criar os arquivos manualmente, porém concordo que uma automação pode ser muito bem vinda!
https://github.com/jota-f/asdlc-framework/tree/main
Essa é uma primeira versão, mas acho que já entrega a ideia do A-SDLC.