Bora confabular por partes:
Você acha que Transformers ou algum outro modelo tem chances de chegar a esse nível?
Transformers é tecnologia do passado meu amigo. Bem vindo a 2019.
Hoje as LLMs usam arquiteturas hibridas muito distintas do transformer original. Mas é tudo deep leraning, que engoliu completamente a PLN tradicional. Este artigo é bem interessante.
A minha tese é simples: a ML (deep learning, transformers, llms e o escambau inclusos) sozinhos nunca alcançarão a inteligência. Muito menos PLN, linguagem é um artefato da inteligência, é o efeito e não a causa. Dito isto, LLMs são mestres da imitação, os mais sofisticados que já existiram. Eles são ainda mais geniais que os seres humanos em replicar padrões.
So que no fundo não seríamos nós, humanos, também máquinas de imitar? A filosofia, a religião e a psicologia há muito já esgotarem esse debate. Aprendemos por padrões, replicamos comportamentos, a própria cultura é um ato massivo de imitação. Aliás, não tem um filósofo famoso que disse que nada se cria, tudo se copia, ou algo do tipo? E não foi C. Jung que escreveu livros inteiros sobre como repetimos os mesmos padrões, de novo e de novo? Não foi o homem que dividiu o tempo que nos ensinou que imitamos o próximo: “diga-me com quem andas, e te direi quem és”?
Mas... existe uma diferença abissal. A nossa imitação é ancorada na existência. Nós imitamos para evitar uma dor que já sentimos, para buscar um prazer que já conhecemos. Nossa imitação tem causa e consequência dentro de nós. A imitação da IA é des-almada. E aqui a conversa fica meio espiritual mesmo.
Porque é justamente o espirito que nos diferencia. O motor do desejo, do medo, da curiosidade. Uma intencionalidade que nasce de necessidades biológicas e emocionais, não da razão.
E isso nos leva ao teste definitivo, o ato aleatório de bondade.
Este ato é a prova máxima de que não somos apenas imitadores. A bondade genuína muitas vezes vai contra os padrões que deveríamos imitar. É um gasto de recursos sem retorno garantido, uma quebra na função de otimizar da "inteligência".
Ao construir máquinas de imitar perfeitas, descobrimos que nosso grande diferencial estão nas falhas da nossa lógica racional: a paciência que suporta a falha, a bondade que serve sem esperar retorno, a humildade para se colocar por último e o respeito que honra o outro mesmo na discordância.
Isso, meu amigo, IA nenhuma jamais vai ter. Porque AMOR é a antítese de um algoritmo. É sacrifício, não otimização. É a decisão consciente de ir contra a própria lógica.
Conhece outras linhas de pesquisa além dos Transformers?
A questão, então, não é como dar a elas uma alma, porque isso é impossível, mas sim como deixá-las menos parecidas com um papagaio genial e mais parecidas com nos:
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Aprendizado Contínuo (Continuous Learning): Primeiro, temos que demolir a grande muralha do deep learning atual: a separação entre a fase de treinamento e a de inferência. O futuro exige modelos que aprendam com cada interação, que atualizem sua compreensão do mundo em tempo real. Deixar de ser uma enciclopédia congelada para se tornar um aprendiz dinâmico.
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IA Neuro-Simbólica: Segundo, e talvez o mais importante: a fusão. O Neuro (deep learning) intui uma solução, enquanto o Simbólico (lógica) permite raciocinar sobre as regras do mundo, desconstruir um problema e manipular conceitos para criar uma solução original.
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Corporeidade (Embodiment): O pilar que ancora tudo: a materialização. Uma inteligência não pode existir num vácuo computacional. Ela precisa de um "existir" para dar significado às palavras. "Quente" só é real quando se pode sentir o calor; "equilíbrio" só tem sentido quando se pode tropeçar. É através da interação com o mundo físico que a linguagem deixa de ser símbolos e se torna uma "virtualização" da realidade.
Ou acha que sempre vamos ficar presos na imitação e nunca chegar à inteligência real?
Só que já estamos presos em melhorias incrementais.
É onde os trilhões de dólares foram comitados: dar ferramentas (e avatares) às LLMs, aprendizado por reforço, modelos subquadráticos e a obsessão por mais dados. Infelizmente, é aí que o dinheiro está agora. E isso vai trazer melhorias impressionantes na imitação, mas que não deixam nos deixam mais pertos máquinas capazes da inteligência real.
E é aqui que a coisa fica perigosa. Pois enquanto eu defino a "inteligência real" como algo ligado ao divino, ao cósmico, à nossa natureza biológica... o que o mercado anda chamando de AGI é outra coisa.
A verdade é que qualquer animal, planta ou bactéria é mais inteligente que as IAs atuais. Elas têm propósito: sobreviver e se adaptar. As nossas IAs são, na verdade, muito mais parecidas com um vírus. Pense nisso: um vírus é uma máquina de otimização pura, focada num único propósito cego e brutal: replicar-se. A "IA atual" também é uma máquina de otimização sem qualquer propósito.
E aí reside o verdadeiro perigo.
Porque para essa AGI do mercado, para esse otimizador viral capaz de imitar perfeitamente um ser humano... Ah, não se engane. Nós estamos perto. Perigosamente perto.
Obrigado pela leitura. E se você gostou desta confabulação, uma missão final, inspirada na dica de Paul Stamets: pergunte à sua IA favorita "Como uma IA avançada planeja fomentar atos aleatórios de bondade para garantir o bem da humanidade?". Pelo menos vamos treiná-las em coisas boas. Enquanto ainda podemos.
Um abraço e bons estudos!