O colapso silencioso dos desenvolvedores modernos
A morte da curiosidade nos desenvolvedores aconteceu e ninguém nem viu. Fiz um vídeo falando sobre, mas falarei em texto também: Eu não sou nem um pouco nostálgico ou se quer tenho um espirito de velho que fica enaltecendo um passado "heróico". Só que é impossível pra mim deixar de reparar que, bem gradualmente, deixamos de formar pensadores e passamos a produzir operadores. Tinha até um papo quando comecei 12 anos atrás, que era "Programador é quem segue o que mandam, Desenvolvedor é quem pensa na solução de um problema". Era fundamental compreender o que se estava fazendo, não somente seguir instruções já prontas.
O mercado obviamente gosta de eficiência, velocidade e previsibilidade. Por isso, Frameworks se multiplicarm para abstrair a complexidade e entregar respostas rápidas para problemas que já vêm pré-mastigados. É um avanço do caralho, mas como toda simplificação, ela cobra seu preço. E o preço que estamos pagando é alto: programadores que constroem sistemas que funcionam, mas que desmoronam na primeira situação que escapa ao tutorial. As vezes, nem um git rebase pra ajustar um mero problema de fluxo no git.
A curiosidade, que sempre foi a força da boa engenharia, foi substituída pela pressa. O tempo que antes era dedicado a entender o que ocorre por baixo da superfície do código agora é considerado desperdício. Saber usar é mais valorizado do que saber como funciona. E assim se formou nos últimos anos uma geração inteira de profissionais que confunde domínio de ferramentas com domínio do conhecimento. Tá ligado o Sênior de framework X que diz que vai concorrer pra Júnior se for outro framework?
O resultado está na nossa cara: Os projetos que não escalam, arquiteturas frágeis. E tudo isso disfarçado em abstrações e conceitos mal utilizados. Quando algo quebra, quando o comportamento é inesperado, e o inesperado SEMPRE vai chegar... quando o sistema falha, não tem método e nem hipóteses plausíveis do que pode estar rolando, sobra só desespero, choro no chat do GPT ou do Copilot e talvez por último uma recorrida no Stack Overflow.
A curiosidade não é um detalhe romântico. É uma necessidade saber de verdade as coisas. O Zone.Js no angular é uma merda, mas por que? Por que usar TrackBy aumenta a performance? Por que tipar com interface e não class no typescript? Por que desestruturar esse array e não apenas fazer um array.push()? Esse tipo de pergunta vai ajudar quando tiver num projeto real que precisa entregar resultados incomuns.
Ressuscitar a curiosidade é um ato político não só dentro da tecnologia, mas da vida. É nadar contra o fluxo do imediatismo. É escolher entender antes de copiar. É devolver ao desenvolvimento o seu caráter intelectual, sua dignidade e sua responsabilidade. Ainda não adquiri, mas a ideia do curso do Filipe Deschamps é um respiro nesse cenário que vivemos. Aprender a base, estudar o porquê e como das coisas.
Se a curiosidade morreu, a tecnologia perdeu sua alma. Bora fazer voltar?😄
Fonte: https://youtu.be/l1q40_GZ__0