10 anos como dev: como um burnout me fez gostar de escrever código novamente
Primeiro, quero deixar claro que essa é minha experiência, e você não deve tomar decisões a partir disso.
Lembro que quando comecei a trabalhar como dev, estava entusiasmado, tinha TES4O pela área, queria mostrar serviço, entregava tudo que dava da forma que sabia, e o que não conseguia, enchia o saco do time pra me ensinar. Estudava sem parar, tudo era novidade. Foi um momento mágico, estava na casa dos 20 anos e tinha energia.
Nessa época li alguns livros, e um deles foi o The Pragmatic Programmer. Os autores, Andy Hunt e Dave Thomas, ensinavam como ser um programador melhor, alguém que entrega valor. Mas, como um júnior sem bagagem pra saber o que é certo ou errado, distorci a mensagem do livro e foquei na parte técnica.
Quando virei pleno, o "pragmático em código" tomou conta de mim. Eu era o cara das boas práticas, performance, testes automatizados, cobertura, arquitetura limpa, código limpo. Sugeri inúmeras mudanças de libs, frameworks, reescrevi o que já funcionava porque "não estava bom suficiente" sem mesmo precisar, e isso foi me cansando. Eu já não tinha mais aquela energia dos meus 20 anos, nem saco. Era um sinal do que viria pela frente.
Se eu fosse desenhar um gráfico, aqui seria o topo da curva de "rigor técnico".
Chegando na senioridade, veio o cansaço. Burnout. Grana não era mais um problema como no início. A real é que eu já tava desiludido, cansado do mercado. Já tinham se passado 10 anos. Cheguei à liderança técnica, tinha tudo pra estar feliz, mas não estava. Faltava o desafio dos primeiros anos.
Escrever código, que era o que eu amava no início, virou uma profissão chata, cheia de calls intermináveis. Trabalhei em segmentos que achava entediantes, e parecia que nada mais brilhava os olhos.
Pra piorar, veio a recessão do mercado de venture capital. Vagas congeladas, layoffs por todos os lados.
Em 2023, a OpenAI abriu sua API. Deram 20 USD pra testar, e ali comecei a brisar em criar produtos pra mim, e não pra encher o bolso de executivos que estavam demitindo em massa. aquela energia do começo voltou.
Concilei trabalho com sonho por dois anos, sem finais de semana livres, sem tempo e assim criei 3 produtos:
-
O primeiro deles nunca lancei. Tecnicamente era perfeito (GraphQL, arquitetura limpa, DDD, boa cobertura de testes, serviço para autenticação), mas morreu no "pragmatismo técnico que distorci do livro". Se chamava AI-Trainer e montava treinos de musculação com IA, além de fazer o acompanhamento.
-
O segundo levei 6 meses pra lançar. Tecnicamente mais simples e tinha seu valor. Era um jogo pra aprender inglês de forma imersiva, como se fosse uma experiência de intercâmbio. Situações do cotidiano como pedir um táxi, café, conversar com pessoas na rua, parque, etc. Dessa vez consegui equilibrar melhor a régua técnica e pelo menos foi para a rua vender. Mas a real? Eu não sabia vender e matei o produto.
-
O terceiro? Totalmente prático. Lancei em uma semana e foi o pivot do produto anterior, lancei em uma semana e na outra já batia 2k de usuários cadastrados. Vendi desde o dia 1. O nicho do produto é 🔞, e já escrevi sobre ele aqui no TabNews aqui.
Hoje, ainda escrevo código bonito. Gosto de "firula", mas posso dizer que sou consciente e pragmático no sentido que o livro quis passar a mensagem.
Diria que sou até mais prático do que pragmático. Tenho uma visão de lançar rápido antes de buscar qualidade técnicas, e isso ainda é difícil pra mim e estou reaprendendo com escrever código, descobri que qualidade é o usuário conseguir fazer o fluxo, e não ter n serviços cada um com um banco de dados, filas, multiplos nós e múltiplas camadas adicionando só complexidade e latência para o usuário final.
Um exemplo prático: uso Elixir na minha app, e, para ficar bonito, poderia dizer que escolhi por ser linguagem funcional, imutável, tolerante a falhas, facilmente distribuída, paralelismo e concorrência, VM BEAM leve e eficiente, processos isolados... e tudo isso é verdade quando o crescimento veio me ajudou mas... não.
O único motivo real é: é a linguagem que domino.
Me permite escrever código confiável e mais importante de forma rápida, desde que eu saiba equilibrar, lanço features em dias, as vezes horas. E é simples assim.
Talvez seja isso: parei de escrever pra impressionar dev para code review, e comecei a escrever pra impressionar meu usuário e encher meu bolso e não o de engravatados que estão jogando outro jogo.
Entendo que, quando você está no mercado tradicional de dev e escreve código com outras pessoas, para empresas, manter organizado é essencial e o mínimo. Mas o meu usuário? Ele não se importa com isso, desde que funcione.