Por que aprender a programar mudou minha vida (e pode mudar a sua também)
Introdução
Olá pessoal, tudo certo?
Recentemente um colega me perguntou se valia a pena aprender a programar e como isso poderia melhorar a vida dele.
A maioria das pessoas acha que programar é só escrever código, ou hoje em dia, pedir pro ChatGPT cuspir o código pra você (e tá tudo bem fazer isso, desde que você saiba o que está fazendo).
Mas programar é outra coisa.
Quando você aprende de verdade, você ganha um superpoder.
Falei pra ele:
“Vou te contar um negócio que aconteceu comigo no meu antigo trabalho. Depois me diz o que acha.”
Ele topou.
Contexto
Eu trabalhava numa empresa que fazia painéis festivos, tecidos sublimados e essas coisas.
Eu era o encarregado da produção — impressão do papel e depois sublimação na calandra.
O fluxo era sempre o mesmo:
- chegavam as fichas
- abria a arte no Photoshop
- conferia qualidade, medida, cor
- escolhia a máquina
- mandava imprimir
Tínhamos 4 máquinas, com valores aproximados:
- Máquina 1 (papel): 40 m/h
- Máquina 2 (papel): 30 m/h
- Máquina 3 (papel): 5 m/h
- Máquina 4 (vinil): 7 m/h
E o processo era basicamente:
conferir → mandar pra máquina → imprimir → sublimação.
Até aí tudo suave.
Mas tinha um problema sério:
num dia normal a gente só fazia 250 metros somando tudo.
Ridículo pra um turno de 9 horas.
Meu colega já tava com cara de “mano, não tô entendendo nada”, e eu só falei:
“Relaxa, vai fazer sentido.”
O experimento que mudou tudo
Um dia eu pensei:
“Vou testar uma coisa.”
Fiquei 1 hora só conferindo arte, depois 20 minutos enviando tudo pras máquinas.
No mesmo dia fechamos 270 metros.
No dia seguinte tirei um rapaz da calandra só pra me ajudar a conferir enquanto eu cuidava das máquinas.
320 metros.
Sim, trabalhar em dois foi melhor do que sozinho.
Mas tinha um problema: a máquina que exige dois operadores é o coração da produção.
Se ela para, você joga dinheiro no lixo.
E eu NÃO podia perder isso em hipótese alguma.
A lógica que resolveu o caos
Setor precisava de 4 pessoas.
Nós tínhamos 3.
Contratar?
Não comigo.
Mesmo não programando ativamente na época, a mentalidade estava ali: Dividir para Conquistar.
Pensei no básico do básico:
abrir a imagem e conferir o que precisa ser conferido.
E aí caiu a ficha:
conferir é só pegar um valor e comparar com o valor correto.
- DPI → compara
- medida → compara
- cor → compara
- tipo → compara
- limite → compara
Ou seja: um monte de IF/ELSE humanos.
A automação começa
Fiz um script que:
- baixava automaticamente as fichas do WhatsApp
- extraía o texto com OCR
- organizava tudo num JSON
- validava DPI, medida, tipo
- dizia qual máquina era melhor pra cada arte
Uma tarefa que levava 5 minutos virou 12–20 segundos.
Eu ganhei tempo.
O setor respirou.
O problema das cores (e o nascimento da Safira)
Outro caos:
o vermelho de uma máquina era diferente do vermelho da outra.
Aí pensei:
“Vou criar um motor de tradução de cor.”
E assim nasceu a Safira.
Eu gosto de pedras preciosas, então o nome caiu perfeito:
precisão, pureza, estabilidade.
A Safira fazia:
- pegava todas as cores da arte
- transformava cada cor em valor numérico
- comparava com a tabela calibrada da máquina
- ajustava o canal
- devolvia a arte corrigida pro equipamento certo
Era um arquivo Python chamado safira_v3_final.py numa pasta bagunçada.
Zero glamour.
Mas funcionava.
O dia que a Safira provou que estava certa
Teve um dia que nunca esqueço.
Primeira produção de uma cliente nova.
Ela escolheu umas cores… bem peculiares rsrs.
E o pedido dava uns 50 metros.
Botei a Safira pra rodar cedo.
Ela apontou problemas de cor em várias áreas.
A Safira salvou pequenos recortes com as cores suspeitas.
Imprimi o teste e mostrei pro vendedor.
Tava diferente. Bem diferente kkkkk.
O vendedor olhou e falou:
“Pode produzir.”
E eu: “Ok então.”
Produzi tudo.
A cliente recebeu… e, claro:
reclamou da cor.
Tivemos que repor parte do pedido.
E no fim eu ainda levei um mini puxão de orelha porque eu só mostrei o teste pro vendedor — e não pro chefe kkkkkk.
A famosa situação:
você faz certo, mas faz certo do jeito errado.
Se eu tivesse ficado, dava pra ter feito muito mais
Essa parte é meio triste, meio revoltante.
Porque mesmo com tudo isso — Safira funcionando, conferência automatizada, produção fluindo —
eu tive que sair da empresa.
E isso travou vários projetos que eu já tava planejando:
1. Otimizador de arquivos
Um pré-processador completo.
Ele ia checar DPI, formato, material, cores, redundância e já corrigir antes de chegar no setor.
Igual o pre-flight das gráficas grandes.
2. Otimização de desperdício de material
Meu xodó.
Um algoritmo de encaixe pra colocar várias artes na mesma largura e reduzir desperdício.
Economizaria muito dinheiro por mês.Isso em partes já funcionava pra maquina de vinil.
Dessa forma aqui:

Eu tinha tudo desenhado no meu caderno.
Mas a vida segue, e eu precisei sair.
Moral da história
Mesmo sem ter concluído tudo, uma coisa ficou clara:
Programar não é sobre código.
É sobre enxergar o mundo como algo que você pode otimizar.
É pegar um problema feio, repetitivo, chato, e dobrar ele até ficar simples.
O setor precisava de 4 pessoas.
A empresa só tinha 3.
Eu fiz a 4ª pessoa ser um script Python.
Ele nunca faltou.
Nunca pediu aumento.
Nunca errou cansado.
Nunca atrasou.
Esse é o superpoder da programação.