Conteúdo gerado com auxílio de IA engaja mais e pode ser melhor
A Buffer, ferramenta de gestão de redes sociais, analisou 1,2 milhão de publicações para comparar o desempenho (engajamento) de conteúdo criado com e sem auxílio de Inteligência Artificial. Os detalhes completos da pesquisa estão disponíveis aqui.
Quando encontrei o artigo no ano passado, pensei "não é possível que conteúdo gerado com IA seja melhor, todos tem a mesma cara, e são terríveis" . Ao ler o artigo, vi a diferença sutil: é sobre conteúdo gerado com auxílio de IA, e não conteúdo gerado por IA.
Achei a pesquisa interessante na época, mas o que me motivou a revisitá-la e compartilhar minhas impressões agora foi a minha experiência com o uso de IA fora da programação, e tenho algumas reflexões e experiências para acrescentar sobre o tema.
Como os dados foram analisados
Eles analisaram os conteúdos de 15 mil usuários, que criaram tanto conteúdos com assistência de IA quanto sem assistência de IA. Considero isso um ponto positivo, porque faz mais sentido analisar se a própria pessoa teve melhorias do que se outra pessoa desempenhou melhor com/sem IA.
Os dados avaliados são a taxa média de engajamento, que é calculada de forma diferente para cada plataforma. Essa taxa inclui métricas como curtidas, comentários, compartilhamentos e salvamentos.
Resultados
A tabela abaixo mostra o engajamento médio (como explicado acima) em conteúdos gerados com auxílio de IA e sem auxílio de IA em diferentes cenários:
Cenário | Com IA | Sem IA |
---|---|---|
Média geral | 5,87% | 4,82% |
Threads | 11,11% | 5,56% |
6,13% | 4,89% | |
TikTok | 6,14% | 4,17% |
4,35% | 3,86% | |
X | 3,70% | 2,80% |
YouTube | 3,90% | 3,70% |
6,85% | 6,22% |
Avaliação da Buffer sobre os resultados
A hipótese formulada pela Buffer é que volume com consistência resulta em mais engajamento. A assistência de IA capacita os criadores a produzir um volume maior de conteúdo com mais eficiência, aumentando significativamente suas chances de criar conteúdos que se conectam com o público.
Os dados internos deles também mostram que usuários que usaram a assistência de IA criaram publicações com mais frequência do que aqueles que não usaram.
Minha opinião sobre os resultados
O que a Buffer falou sobre gerar conteúdo com consistência faz sentido, mas minha experiência me leva a crer que conteúdo gerado com a assistência de IA realmente pode ser melhor, e não apenas engajar mais.
IA como revisora
Já usei IA para revisar meus textos e pedi sugestões para avaliar: se é possível deixar mais conciso; explicar melhor algum exemplo; se o conteúdo tem pontas soltas; se o fluxo de leitura está bom ou tem mudanças bruscas; corrigir erros de gramática; se algo importante não foi mencionado; ou até mesmo adicionar referências complementares para alguma afirmação ou para o leitor se aprofundar no conteúdo após a leitura.
Minha experiência com o ChatGPT e o Gemini 2.5 Flash para revisar textos não foi boa. Geralmente eles insistem que as coisas sejam escritas do jeito deles, e sempre que você pergunta novamente após a revisão, sugerem mais coisas para serem modificadas.
O Gemini 2.5 Pro é muito melhor. Na primeira vez que usei ele para revisão, fiquei tão impressionado que comentei com um amigo. Ele captura bem o contexto geral, avalia cada tópico abordado e dá uma lista do que pode ser melhorado, explicando o porquê e dando sugestões de substituições para o texto. Às vezes, dá mais de uma sugestão sobre o mesmo ponto. Ele não reescreve o texto inteiro, diferentemente dos outros modelos, e consegue identificar quais partes foram modificadas.
Talvez você se pergunte como eu sei que realmente o texto fica melhor, mas a resposta é simples: porque eu, como autor, aceito ou rejeito as sugestões conforme acho melhor, e insisto nos pontos que sinto que poderiam estar melhor. Já aconteceu de eu querer abordar um subtópico específico dentro do assunto geral da publicação, mas não saber exatamente como fazê-lo de forma breve, e o Gemini 2.5 Pro colaborou bem com isso.
Usar uma boa IA para revisar é como contar com uma pessoa capacitada para isso, que não se importa se você aceita ou não as sugestões dela, e deixa claro o motivo de cada sugestão, para você avaliar se faz sentido ou não. Usar uma IA ruim para revisar é como ter alguém insistindo que você faça as coisas do jeito que ela quer.
IA como geradora
Já falei brevemente de uma situação onde a IA elaborou inicialmente uma parte do texto para eu conseguir progredir, já que estava travado na ideia. Eu não gosto de ler um texto totalmente gerado por IA, mas um texto é fácil de ser modificado conforme o autor trabalha nele.
Imagens são mais complicadas, se não tem alguém envolvido com capacidade para editá-las. Apesar disso, a IA também tem ficado melhor na geração de imagens. Eu ainda não tive uma experiência própria com isso, mas recentemente me impressionei com um exemplo que vi no LinkedIn:
Essa imagem foi feita pelo Gabriel Avelar com o ChatGPT, para o artigo sobre armazenamento seguro de senhas. Eu fiquei surpreso porque realmente achei boa, e perguntei para o Gabriel como ele fez. Ele disse que pediu para gerar uma imagem na horizontal sobre o artigo de título tal. Na primeira versão o ChatGPT fez com a pimenta, então o Gabriel pediu para adicionar o sal. As cores estavam meio "apagadas", então pediu pra fazer algo mais futurista.
Nesse caso, o ChatGPT conseguiu fazer algo melhor do que eu ou ele conseguiríamos, porque não temos esse nível de habilidade com imagens. E o jeito do Gabriel "editar", diferente do que mencionei sobre alterar o texto, foi pedindo para a IA adicionar coisas ou mudar o "clima" da imagem.
Então, considerando que um conteúdo escrito vá ser publicado num lugar onde é necessário ter alguma imagem, hoje o uso de IA pode ajudar o conteúdo a ficar "melhor", gerando uma imagem melhor do que o autor conseguiria fazer ou encontrar.
Acredito que este raciocínio possa ser extrapolado para vídeos também, principalmente com a qualidade que temos hoje com o Veo 3, mas não conheço nenhum caso onde a pessoa produz conteúdo com consistência e usou uma IA para gerar parte do vídeo, e como isso teria sido melhor do que sem a IA.
Já temos casos da IA gerando o vídeo todo, como o vídeo da festa junina, da prefeitura de Ulianópolis, uma cidade de menos de 40 mil habitantes.
IA na programação
Na minha experiência, conversar com alguém ajuda a encontrar soluções, mesmo quando a outra pessoa não sabe programação. Já houve incontáveis vezes em que repassei o assunto na minha cabeça, estruturei a conversa com a outra pessoa, e quando eu disse a primeira frase para ela, veio a solução. É para situações assim que surgiu o pato de borracha na programação.
Também tem casos em que a outra pessoa consegue contribuir com pontos de vista que você não pensou, ou ajuda a aprofundar uma solução. Aqui, na falta de outra pessoa, você pode "conversar" com uma IA.
Eu ainda não fiz isso vezes o suficiente para compartilhar minha experiência, então não consigo dizer o quão viável e eficiente isso é, mas pretendo fazer mais vezes quando me encontrar nessa situação.
Para não deixar esta seção sem exemplos, o Augusto Galego já falou em vários vídeos sobre conversar com a IA para elaborar melhor uma solução para um problema específico, e pedir para ela gerar documentos como ADR. Um exemplo de vídeo em que ele fala e mostra isso é o Como escolher uma stack pra um projeto?
IA como gatilho para criatividade
Este é mais um uso de IA que eu acredito que possa fazer sentido, mas ainda não usei para isso. Este uso se assemelha ao anterior (elaborar ideias), mas com foco em destravar a criatividade para a geração de novos conteúdos.
Por exemplo, se você é professor num curso, pode usar a IA para sugerir assuntos a serem abordados porque a ementa deixou uma lacuna, ou que seria interessante de ter aprofundamento. No ponto de vista de criação de conteúdo, usar a IA como fonte de sugestão de assuntos para vídeos, textos, carrosseis etc.
Também não sei o quão eficaz isso é. Quando peço ajuda para escrever títulos, passo por muitas sugestões, até pegar um pouco da ideia de uma e outra sugestão e elaborar o título. É comum eu não gostar de nenhum título, mas na maioria das vezes essa troca de ideias é positiva. Imagino que para gerar conteúdo possa ser uma situação similar.
Já encontrei um relato onde o autor diz que conversa com a IA para elaborar o texto, pedindo perguntas e sugestões sobre o tema. Você pode ler em detalhes em How I Use LLMs to Write.
Trabalho como ciborgues
Aumentamos a nossa capacidade conforme o avanço da tecnologia, como ao usar carros para uma locomoção mais rápida, e máquinas para produção. O Walter Longo traz uma ideia similar sobre nossa interação com a IA. Ele elabora um pouco a ideia neste vídeo: "isso significa integrar-se de forma mais sinérgica com a tecnologia, atuando como verdadeiros 'ciborgues', onde a colaboração é tão natural que se torna indivisível."
A pesquisa da Buffer, somada às minhas experiências pessoais e experiências de terceiros que citei neste texto, reforçam minha crença de que alcançar esse equilíbrio "ciborgue" é o caminho para otimizar não apenas a quantidade, mas principalmente a qualidade do que produzimos.
Apesar disso, o uso de LLMs tem efeitos de segunda ordem que você precisa tomar cuidado. Dependendo do seu jeito de escrever, ou mesmo o tanto de sugestões que aceita da IA sem realizar alteração, pode fazer seu texto cair em um "vale da estranheza". Tem um artigo que se aprofunda mais nesse tema: F***! ChatGPT Really Is Ruining Writing (And I Told You So)! Se resolver trabalhar com a IA para produzir algo melhor, não se esqueça de "tirar a IA do trabalho" para deixar a sua marca no final, um trabalho "mais humano, menos robótico".