O Fim da Era Flat? Liquid Glass e o Retorno da Profundidade no Design Digital.
A era flat parece estar dando seus últimos suspiros — e ironicamente, quem está selando esse ciclo é a mesma empresa que o popularizou. Quando a Apple apresentou o iOS 7 em 2013, ela redefiniu o visual dos sistemas com um design minimalista, livre de texturas e sombras pesadas. O mundo acompanhou: Android, sites, marcas, interfaces de TV e carro. O flat se tornou o padrão, o “clean” desejado por todos.
Mas agora, em 2025, a Apple vira a chave de novo com o Liquid Glass, apresentado na WWDC como “o maior update visual desde o iOS 7”. Trata-se de um novo paradigma: camadas translúcidas, luz dinâmica, profundidade real e uma estética que remete ao vidro líquido — não o vidro opaco do passado, mas algo vivo, responsivo, fluido.
Como isso afeta a nós, desenvolvedores de software?
A principal mudança está na forma como projetamos e implementamos interfaces. O Liquid Glass traz um novo conjunto de expectativas visuais: transparência real, sobreposição de camadas com desfoque, brilho adaptativo, movimento integrado à interação. Elementos visuais deixam de ser blocos fixos e passam a exigir mais fluidez e comportamento contextual.
Na prática, isso significa adaptar nosso stack. Tecnologias como backdrop-filter
e filter
no CSS passam a ser úteis para reproduzir camadas com efeito de vidro. Mas é preciso atenção: essas propriedades são custosas em performance e nem sempre têm suporte amplo. Otimizações como uso consciente de will-change
ou encapsulamento com canvas/WebGL podem ser necessárias em casos mais exigentes. Frameworks modernos — como Flutter, SwiftUI e até bibliotecas JavaScript especializadas em glassmorphism — começam a se destacar para quem busca entregar experiências mais imersivas sem reinventar a roda.
Ao mesmo tempo, o foco técnico não pode deixar de lado o essencial: acessibilidade e performance. Transparência e brilho são bonitos, mas podem dificultar leitura, distraírem usuários ou sobrecarregar dispositivos mais simples. É vital pensar em contrastes, modos de alto desempenho e oferecer variações visuais que respeitem as configurações do sistema — como “reduzir transparência” ou “modo escuro reforçado”.
Estamos diante de uma revolução ou só mais um ciclo?
O Liquid Glass pode ser só mais um efeito bonito — ou o começo de uma nova linguagem universal, assim como o flat foi em seu tempo. A maioria dos produtos digitais ainda se ancora no flat porque é rápido, familiar e funcional. Mas quando um sistema como o iOS 26 decide que a nova linguagem padrão é translúcida, fluida, profunda… a tendência é que todo o ecossistema siga.
Não se trata de abandonar o flat — mas de questionar se ele ainda é suficiente.
E aí: vamos esperar o cliente pedir "um site com cara de iOS novo"... ou vamos propor primeiro?
Referências
The Verge – Apple’s Liquid Glass redesign doesn’t look like much
UX Collective – Liquid Glass: Fragile UX and why I waited 2 weeks
LogRocket Blog – Apple’s Liquid Glass UI: Implications for Web UX
Medium – A Developer’s Perspective on Liquid Glass
Apple confirma o FIM do design FLAT | Gaveta