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escreve errado e o novo certo

Já pararam pra pensar que, com o advento das IA, que contaminaram completamente o cenário textual, muita gente julga de maneira muito mais rígida se vale a pena direcionar sua atenção ou não para algum conteúdo?

Já vi aqui mesmo nesse site colegas dizendo que se o texto tem "além disso", "ou seja", ou o tão recentemente setenciado "-", deixam de ler imediatamente.

E eu não sou estrela cadente. Se eu vejo traços de escrita que me lembram IA, perco rapidamente o interesse de ler - mesmo que possa não ser produto de IA.

Surge então a nova questão digital do século: o errado será o novo certo?

pra vc ser visto como pessoa, tem q adotar medidas drásticas? tipo escrever errado, pra escapad das garras IA

Porque, francamente, no momento em que a inteligência artificial se apresenta em determinados trejeitos, e essa mesma inteligência passa a ser excluída do cotidiano de muitas pessoas, então seus trejeitos vão junto - nesse caso, escrever certo.

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Achei tua provocação muito pertinente, mas eu enxergo o problema num outro nível.

Para mim, a aparência do texto é quase irrelevante perto do conteúdo. Um texto com “cara de IA”, com conectivos demais ou ortografia impecável não diz absolutamente nada, por si só, sobre a qualidade epistêmica daquilo que está sendo dito. O que interessa é: este enunciado é verdadeiro, bem fundamentado, intelectualmente honesto e útil para pensar melhor sobre algo?

Quando alguém passa a filtrar textos apenas pela forma, fazendo uma leitura do tipo “se parece IA, então certamente não vale a pena”, está operando com um atalho mental que a psicologia cognitiva descreveria como distorção: generalização ou pensamento absolutista. É o clássico “sempre”, “nunca”, “se X então obrigatoriamente Y”, que aparece como crença rígida e empobrece a leitura da realidade. Esse tipo de crença limitante funciona como um filtro automático que decide antes da experiência, e não a partir da experiência.

Do ponto de vista das heurísticas de julgamento, isso se aproxima bastante do viés de representatividade: em vez de examinar o argumento, a pessoa compara o texto com um protótipo mental de “texto de IA” e julga tudo com base nessa semelhança superficial. Heurísticas têm uma função importante de economizar esforço mental, mas a própria literatura em tomada de decisão mostra que, quando não são criticadas, elas produzem julgamentos sistematicamente ruins. O leitor deixa de avaliar evidência, contexto, encadeamento lógico, e passa a se guiar apenas pela superfície gráfica do enunciado.

Se deslocarmos a discussão para a psicanálise, dá para ler esse movimento também como uma forma de defesa. Em vez de enfrentar a angústia contemporânea de não saber mais “quem” escreveu (humano, IA, humano com IA, etc.), o sujeito constrói um estereótipo tranquilizador. Tudo o que tem certa forma é colocado na gaveta do “não me interessa”, e isso preserva uma sensação de controle, mas à custa de empobrecer radicalmente a relação com o texto. Preconceito, nesse sentido, é justamente isso: um arranjo inconsciente que reduz a complexidade do outro a um rótulo, para manter intacta uma imagem de si e do mundo.

E aqui entra uma observação que quase nunca é levada em conta nessa polêmica: o mesmo raciocínio valeria para livros. Autores enviam seus manuscritos para editoras, e uma parte central do trabalho editorial é justamente revisar, aparar excessos, corrigir problemas de linguagem, ajustar estilo e torná-lo mais claro e fluido. O editor, nesse contexto, exerce um papel funcionalmente análogo ao que a IA exerce hoje em muitos textos: um mediador que melhora a forma. Se eu levasse às últimas consequências essa rejeição “pela cara do texto”, eu teria que descartar também livros porque têm “cara de editor”, isto é, porque foram polidos, revisados e tornados mais legíveis por um terceiro. O que mostra que o problema não é a ferramenta em si, seja ela humana ou artificial, mas a nossa projeção em cima dela.

Talvez a verdade incômoda seja outra: muita gente simplesmente não gosta de ler, ou não está disposta a sustentar o esforço de leitura, e então precisa de justificativas aparentemente nobres para abandonar o texto o mais rápido possível. “Parece IA” vira só mais uma racionalização elegante para um gesto muito simples: desistir da leitura antes de se confrontar de fato com o conteúdo. Em vez de dizer “não quero ler”, a pessoa diz “não vale a pena ler porque tem cara de IA”. A função psíquica é a mesma: livrar-se rapidamente do desconforto que a leitura exige.

No fim das contas, esse tipo de filtro não prejudica o texto, prejudica o leitor. Quem recusa qualquer coisa que “cheira a IA” sem sequer testar o conteúdo está, na prática, reduzindo drasticamente o próprio estoque de informação e de ideias. Já quem suspende o preconceito formal, lê, confronta, discorda, checa fonte e decide depois, tende a se tornar muito mais bem informado do que quem vive preso a essas crenças limitantes sobre aparência textual.

Então, se existe um “filtro” relevante aí, eu não o vejo separando texto de IA e texto humano, e sim separando modos de ler. De um lado, quem precisa de garantias formais para se sentir seguro e, por isso, julga por atalho. Do outro, quem aceita a incerteza, se dispõe a analisar o que está dito e entende que um bom argumento continua bom independentemente de ter sido escrito à mão, com editor humano ou com apoio de uma IA. Em termos de acesso à informação e desenvolvimento intelectual, minha aposta é que o segundo grupo leva uma vantagem enorme no longo prazo.

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Se isso for feito as pessoas vão pedir para a IA escrever com erros pontuais para passar desapercebida, porque quem faz esse tipo de coisa é um idiota que quer passar por inteligente e não vai economizar energia para conseguir isso, e provavelmente não vai mudar porque narcisismo não tem cura.

O que eu faço é ter um estilo. Por isso não gosto muito de passar pela IA até mesmo para corrigir algo. Eu escrevo de um jeito que não é o ideal, mas é o meu jeito. Várias pessoas dizem que começam ler e sabem que o texto é meu sem ver o nome. Isso é um dos maiores elogios que posso receber, o que compensa bem as críticas fundadas e infundadas que recebo. E nem é por causa de "assinaturas". Talvez ajude certos erros de digitação que eu cometo sempre. Treinei o erro.

Comecei ver uma nova série do Vince Gilligan e é incrível como você vê que é dele sem mesmo saber. Acontece com alguns diretores de cinema, autores de livros (não acontece com todos), tem muito caso que fica "industrializado". Isso é o legal da vida, a IA vai fazer nossas vidas mais miseráveis, principalmente nas gerações que "nasçam" onde o mundo já é todo feito de IA.

Não posso deixar de dizer que temos o livre arbítrio, mas que cada vez mais te dará poucas opções interessantes e muitas mais fáceis de consumir e muito piores. E não tem o que fazer. Eu sou (quase) um bobo falando sobre isso.

S2


Farei algo que muitos pedem para aprender a programar corretamente, gratuitamente (não vendo nada, é retribuição na minha aposentadoria) (links aqui).

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Uma das características de ser humano é possuir imperfeições, tanto nas questões físicas quanto no comportamento.

Quando nos deparamos como algo muito bem "arrumadinho" dá aquela sensação de vale da estranheza, acho que a poesia se perde e nos desconectamos.

Uma possibilidade de futuro (talvez utópico) é que a humanidade vai se cansar da artificiliadade e começar a valorizar novamente o que é feito manualmente.

Muita gente na pandemia aprimorou habilidades manuais e na cozinha justamente para fugir da artificialidade que vivemos naqueles dias.

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Para algumas pessoas vai aco ntecer isso. Como aconteceu com o Vinil que hoje vende até bem, e CD não vende por a experiência do CD é parecida com a do streaming que tem até algumas vantagens, e desvantagens também, claro. Mas é um grupo muito pequeno que compra esses vinis. E algumas pessoas compram por babaquice, como dar motivações que é melhor com o ruído da agulha passando da superfície do disco, algo que o digital não tem.

Sempre terão os rebeldes, e isso é bom., pena eles sempre serão poucos.

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Na minha humilde opinião, quem vai dizer o que estava errado ou certo será o destino, mais uma vez. Aqueles que estiverem presentes até 2030, talvez 2035 ou data próxima (dependendo do quanto você já rodou), terão o prazer de saber o que foi bom: usar IA sem limites; resistir como bons Homo sapiens que somos; desfrutar os frutos de um mundo sem trabalho, sem problemas de falta de energia, água ou colapsos (supondo que as IAs resolvam tudo que um cientista resolve, trabalhando 24h por dia e sem salário, os gastos serão apenas os de usuais convênios médicos para IAs, carros, pets e o que for).
Tentar entender as mudanças, fazendo parte das mudanças, não é confortável, nem existe especialistas megasênior blaster ultrapower capazes de descrever em seu best seller de vendas como devemos fazer. Respostas concretas para esse tipo de questão devem levar em conta não apenas opiniões pessoais, senão vira papo de botequim, sem compromisso com o que talvez seja fundamental para se entender melhor o ser humano como espécie que compartilha a natureza com outros seres vivos que possuem seus próprios desafios. Não se deve descartar que há diferentes realidades nas classes diferentes sociais. Se uma IA é capaz de ameaçar alguma coisa é porque deve haver medo de alguma notarem fragilidades que às vezes parecem mais como instrumentos de controle humano, como aqueles vistos em livros de ficção do século XVIII. IA é algo caro, e não deve ser projetada para todos usarem amplamente (embora haja muitas falácias que escutamos por aí), como não ainda não é, mas sim por aqueles (como personas do negócio) que são o próprio produto da relação com as plataformas: "Se você não paga pelo uso, você é o produto". Vivemos num mundo onde tudo possui um valor de mercado. Quem controla o meio, os instrumentos do meio, controla a finalidade. Alguém lucra bastante com o serviço alheio. Sempre há exceções. Isso é bom. Tentar não ser romântico, reduzindo o debate a nossa opinião pessoal, é um primeiro passo para o entendimento desse tipo de questão. O próprio português, não se tem um único jeito de se escrever certo ou errado.

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Meus 2 cents,

Se voce acompanha meus posts ja deve ter percebido que uso um estilo bem proprio - e eh de proposito.

Funciona ? Nao sei - mas pelo menos quando alguem le geralmente ja consegue identificar a pessoa (gostando ou nao do autor).

Saude e Sucesso !

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Acredito que o futuro é isso, marketing pessoal.

A personalidade vai ser um novo produto, devido a sua própria escassez.

Quem sabe de uma forma ou de outra, a humanidade não se torne mais "humana", semelhante ao inicio da Internet, por livre e espontânea vontade.

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Gostei do seu texto. Você conseguiu me deixar em dúvida se ele foi escrito por uma IA rsrs.

Falando sério agora: eu sempre tento escrever corretamente. Não apenas isso, tento também escrever da mesma maneira que os pensamentos fluem na minha cabeça. E isso faz com que meus textos não sejam agradáveis para a maioria das pessoas.

Por exemplo, eu, geralmente, escrevo diversos adendos. Isso complica muito o entendimento de quem não tem uma boa afinidade com leitura.

E eu não vou parar. Penso que, como outras pessoas expressaram nos comentários, esse é meu estilo. Quem não entender, que pergunte, se quiser, claro.

Obviamente, existem contextos específicos que eu preciso, e às vezes preciso demais, ser entendido. Nesses contextos, acabo alterando a minha forma de escrita (ou enviando áudio rsrs).

Conectivos, quase sempre uso. Penso que, em muitos casos, precisamos conectar um parágrafo ao outro para o texto ser coerente.

Outra coisa: eu sempre escrevo demais. Ainda não me decidi se acredito que sou prolixo, apesar de provavelmente ser. Na minha cabeça, eu preciso explicar as ideias corretamente (e completamente).

Paradoxalmente, isso diminui o entendimento de muitas pessoas rsrs.

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Para mim, essa é apenas uma nova forma de preconceito. Quer dizer que porque uso IA para me ajudar então não mereço ser lido?

Foi pensando assim que coisas horríveis aconteceram na história da humanidade.

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É preconceito sim. Literalmente.

Do mesmo cerne do preconceito que emana em você quando você pula um anúncio de um vendedor de curso.

Bem vindo à humanidade!

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Eu tenho a mesma percepção que a sua. Quando fico rolando o feed no LinkedIn e vejo emojis demais no meio do texto ou mesmo só desconfiar que é IA, paro de onde estiver, por mais interessante, e bem abordado, que seja o assunto.