Por Que 90% dos Devs Não São Contrataveis (E Como Encontrar os 10%)
Recado: Antes de mais nada, estou contratando! Se você é um Dev Fullstack (NextJS) e estiver interessado, entre em contato pelo whats: +55 (51) 98612-7959. (R$10k - R$20k)
Os devs de hoje são incompetentes?
Sim! A síndrome do impostor deixou de ser algo a ser tratado no psicólogo e passou a ser algo real e que deve ser tratado com estudo. A pergunta é simples, porém reflete uma realidade brutal: o sarrafo de conhecimento nunca esteve tão baixo, e pior... está despencando em velocidade recorde.
A profissão de engenheiro de software furou a bolha "nerd", parando de ser uma profissão de vocação e passando a ser uma de ganância.
Se você trabalha com recrutamento, sabe EXATAMENTE do que estou falando. Mas calma, devs competentes ainda existem, e nos meus últimos meses de contratação encontrei um método que fez com que nunca fosse tão fácil encontrá-los.
A dolorosa jornada
Antes de te contar minha história, você precisa saber que eu mesmo sou um engenheiro com background extremamente técnico. Atualmente sou Founder Engineer @ Cluely e atuo como software engineer há cerca de 9 anos.
Em meados de 2018, contratar bons devs era tão fácil quanto escrever um hello world. A profissão ainda era nichada e os incentivos eram direcionados ao longo prazo. Se você queria ser dev, provavelmente era porque gostava de tecnologia. Simples assim.
Fast forward para 2023-2024: o mercado virou um caos absoluto.
Bootcamps vendendo sonhos de salários de $10k em 6 meses. LinkedIn cheio de "influencers tech" com 3 meses de experiência dando aula de arquitetura. E o pior: uma enxurrada de candidatos que decoraram respostas do ChatGPT mas nunca debugaram uma API na vida.
Meu processo de contratação virou um pesadelo:
- 200+ candidatos por vaga
- 90% não passavam em FizzBuzz (sim, em 2024!)
- Currículos recheados de buzzwords: "AI enthusiast", "Cloud native", "Microservices expert"
- Na prática: dificuldade pra fazer um CRUD e manipular array em JS
Gastei 3 meses tentando preencher UMA vaga. Fiz mais de 40 entrevistas. Resultado? Nenhuma contratação.
O ponto de virada
A ficha caiu quando um candidato, com um currículo impecável (React, Node, AWS, Docker, Kubernetes), não conseguiu me explicar a diferença entre null e undefined em JavaScript.
Percebi que estava jogando o jogo errado. Estava filtrando por keywords no currículo quando deveria estar filtrando por capacidade de pensar.
Mudei completamente minha abordagem e criei o que chamo de "Filtro Anti-BS" (bullshit).
O Filtro Anti-BS: Como encontrar devs de verdade
0. Onde encontrar the real deal
Fácil e rápido: a maior taxa de conversão de candidato para contratado que tenho é em hackathons, startup week, Twitter e blogs tech (tipo o Tabnews kek).
1. Esqueça o currículo tradicional
Sério. Pare de ler currículos como se fossem um checklist de tecnologias.
O que importa:
- Projetos pessoais no GitHub (código real, não forks vazios)
- Histórico de commits (consistência > quantidade)
- Pull requests em projetos open source
- Blog posts ou Stack Overflow (capacidade de articular pensamento)
- Histórico vencedor (vencedor de hackathon, programação competitiva ou premiado)
Se o candidato não tem nada disso, é red flag. Não me importa quantos cursos da Udemy ele completou.
2. O teste de 15 minutos que filtra 80%
Antes de qualquer entrevista formal, mando um exercício simples:
Crie uma API REST que:
- Aceite uma lista de números
- Retorne a mediana
- Salve o resultado em memória
- Tenha um endpoint para buscar histórico
Tempo: você decide
Stack: a que você quiser
Entrega: link do repositório + README explicando suas escolhas
O que estou avaliando:
- ✅ Consegue completar? (50% não conseguem)
- ✅ Código é limpo e legível?
- ✅ Trata edge cases?
- ✅ O README demonstra raciocínio?
- ✅ Escolhas tecnológicas fazem sentido?
Não me importa se usou Express, Fastify ou Hono. Quero ver como pensa, não o que sabe decorado.
3. A entrevista técnica de verdade
Se passou do teste, fazemos uma call de 45–60 min. Mas nada de LeetCode ou algoritmos de faculdade. Como trabalho na Cluely, sei exatamente qual direção isso pode tomar kkkk.
Faço o candidato:
- Fazer code review do próprio código do teste
- Debuggar um bug que eu injeto na hora
- Refatorar uma função ruim que apresento
- Discutir trade-offs de diferentes abordagens
Isso revela:
- Humildade (consegue criticar o próprio código?)
- Pensamento crítico (identifica problemas de design?)
- Comunicação (explica decisões claramente?)
- Pragmatismo (balança teoria vs. realidade?)
4. O teste de cultura (o mais importante)
Técnica se ensina. Atitude, não.
Perguntas que faço:
- "Me fala de uma vez que você quebrou produção. O que fez?"
- "Qual foi o último conceito técnico que aprendeu? Por quê?"
- "Você já teve strong opinions de produto ou discussão com colega em um projeto? Como resolveu isso?"
Quero ver:
- O MAIS IMPORTANTE: Ownership (assume responsabilidade)
- Curiosidade (aprende por interesse, não obrigatoriedade)
- Opinião própria (questiona decisões com argumentos)
Se o candidato concorda com tudo que falo, é red flag. Quero gente que me desafia.
Os resultados
Depois de implementar esse processo:
- Tempo de contratação: 3 meses → 2 semanas
- Taxa de aprovação: 2% → 15% (ainda é baixa, mas são devs de verdade)
- Turnover: 0% nos últimos 6 meses
- Produtividade do time: aumentou absurdamente
Contratei 3 devs nos últimos 4 meses. Todos seniors/mid-level. Todos excelentes.
O segredo? Parei de procurar "o melhor dev do mercado" e comecei a procurar "gente que pensa como engenheiro".
Lições aprendidas
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Senioridade não é tempo de casa
- Conheci senior com 10 anos que não sabia Git direito
- Conheci junior com 1 ano que tinha raciocínio de arquiteto
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Stack importa menos do que você pensa
- Um bom dev aprende qualquer framework em semanas
- Um dev ruim vai ser ruim em qualquer stack
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Cultural fit > Technical skills
- Técnica se treina
- Ego, preguiça e falta de curiosidade não têm cura
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Seja brutalmente honesto no processo
- Mostre o código real do projeto
- Fale dos problemas que estão enfrentando
- Se o candidato fugir, melhor agora do que depois
Pra você que é dev e está lendo isso
Se você se sentiu ofendido com o título desse post, provavelmente é parte do problema.
Os melhores devs que conheço têm síndrome do impostor justamente porque sabem o quanto não sabem. É o Dunning-Kruger ao contrário.
Como se destacar nesse mercado saturado:
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Tenha presença técnica
- GitHub ativo (não precisa ser o próximo Linus, mas mostre código)
- Blog onde compartilha aprendizados
- Contribua em open source (mesmo que seja documentação)
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Profundidade > Amplitude
- Melhor ser excelente em 2–3 tecnologias do que mediano em 20
- Entenda os fundamentos, não só a sintaxe
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Aprenda a se comunicar
- 50% do trabalho de dev é comunicação
- Saiba explicar decisões técnicas pra não-técnicos
- Documente seu raciocínio
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Seja humilde, mas confiante
- Admita quando não sabe
- Mas demonstre capacidade de aprender rápido
Conclusão
O mercado de tech está saturado de pessoas querendo "virar dev". Mas está carente de engenheiros de software de verdade.
A diferença? Engenheiros pensam em sistemas, trade-offs, manutenção. Não só fazem o código funcionar — fazem o código durar.
Se você é recrutador, empresário ou tech lead: pare de usar processos de contratação dos anos 2000. O jogo mudou.
Se você é dev: seja a exceção, não a regra. O mercado está ruim, mas sempre tem espaço pra gente boa.
E se você leu até aqui e achou que tem o perfil: meu WhatsApp está lá em cima. Vamos conversar.
PS: Esse post vai gerar polêmica. Vão me chamar de elitista, arrogante, gatekeeping. Tudo bem. Prefiro ser honesto e polêmico do que politicamente correto e inútil.
Se você tem uma opinião diferente, adoraria ouvir. Me manda uma DM ou comenta. Mas traga argumentos, não sentimentos.